Floresta Allgreen

Puto. Era assim que se definia naquele momento. Klaus queria poder ter a chance de voar no pescoço daquela mulher que decidia tudo na sua frente sem ao menos perguntar sua opinião. Afinal, Klaus poderia estar em uma emboscada sem nem ao menos estar sabendo. Mas agora não importava. Já estava metido nisso até o pescoço e não poderia voltar atrás. Tinha que saber de Khal’ed. Quem era esse afinal? Enquanto andava, ponderava nas situações, até a que a voz de um outro ser sinistro, ecoou no local.

- Se ficarmos juntos, cobriremos uma área menor. Você vai por esse lado direito e eu vou pelo esquerdo.

Dito isso, simplesmente deu meia volta e saiu andando calmamente por entre as árvores. Ao longe, Klaus ainda podia ver sua silhueta e rebolado. Era uma linda mulher. A linda mulher que deixou sua vida um inferno. De qualquer forma, agora poderia ao menos se ver livre dela por um momento. O caminho da direita era seu. Todavia, agora que tinha parado para observar bem a floresta, seu ar tranquilo era inquieto demais. Era como se fosse um pressentimento para tomar cuidado.

Começou a andar e depois de mais ou menos uma hora de caminhada sem parar, suas pernas já pediam descanso. Abaixou-se para descansar, quando percebeu uma enorme pegada no chão. Era a pata de um animal... Lobo talvez, contudo... A pata tinha aproximadamente um metro e meio de comprimento, o que indicava que o animal era enorme. Além do mais, o chão estava fofo, ou seja, o animal tinha acabado de passar por ali. Naquele momento o coração de Klaus acelerou. Onde estaria Khal’ed?

O efeito em Klaus foi totalmente contrário. De certa forma, bem interessante, ao menos para ele. O rapaz simplesmente seguiu em frente e começou a procurar o bicho. Andou ao norte, por mais ou menos vinte minutos. As pegadas ainda continuavam constantes e retilíneas, seguindo certa direção. Até que de repente, simplesmente sumiram. Klaus olhou para a esquerda e para a direita. Começou a vasculhar pelo mesmo local. Empurrava as plantas, rodeava as longas árvores e nada. Simplesmente nada. Apenas o barulho do vento e o incômodo de alguns insetos que insistiam em transitar no local. Fazer o que então, simplesmente voltar não é? Entrar novamente na trilha original, afinal, não poderia se desvirtuar muito do caminho. Virou-se então.

E quando se deu conta, um enorme focinho estava bem na sua cara. Podia sentir o vento quente saindo pelas narinas do animal. O monstro devia ter em média, seis metros de altura. Tinha uma pelagem branca e olhos totalmente negros. Não era muito musculoso, afinal, poder-se-ia notar a aparição de suas costelas na lateral. Bem, Klaus até poderia notar, porém, antes que pudesse fazer alguma coisa, Kha’led rugiu ferozmente mostrando seus poderosos dentes. O rugido da fera foi tão intenso que empurro Klaus mais de dois metros, fazendo-o colidir contra uma árvore.

Bem, não foi tão difícil achar o totó.

Não era hora de ficar se lamentando, afinal, um bicho enorme estava bem na sua frente e ele e deveria fazer alguma coisa a respeito não é mesmo? Levantou-se e assim que conseguiu se equilibrar, viu que suas pernas estavam um pouco bambas, mas não de medo e sim de emoção. Uma batalha interessante estava prestes a começar sendo ele e Kha’led os principais protagonistas. Já determinado, Klaus partiu para cima do imenso cão, enquanto esse já erguia suas patas para tentar acertar o Meio-Dragão... Que conseguiu desviar com um rolamento e por pouco não ser acertado.

Assim que se levantou, decidiu atacar. Saltou em cima do monstro procurando lhe acertar um soco, mas Klaus por alguma razão não tinha conseguido medir uma distância exata. O focinho de Kha’led se encontrava mais ou menos cinco metros e meio do solo e Klaus não chegou nem nos três metros quando deu o seu salto. No ar, indefeso, pôde ver os olhos imensamente negros lhe fitarem com uma fúria doentia enquanto uma imensa sombra cobria sua visão trazendo-lhe a dor.

A pata direita de Kha’led desceu sobre o seu corpo praticamente cravando Klaus no chão. Quem dera ocorresse isso. O rapaz saiu raspando na grama mediana do solo, batendo em arbustos até frear a uma distância de mais ou menos quatro metros. Sentia a lateral esquerda de seu corpo extremamente dolorida dolorida e seu rosto tinha três arranhões profundos, porém, não letais. Certamente aventureiros carregavam muitas marcas como essas, mostrando que tinham sobrevivido aos piores inimigos. Com Klaus não estaria sendo diferente. Ele só não podia morrer.

Ergueu-se com dificuldade e as penas vacilaram, deixando-lhe de joelhos. Certamente não era a vontade de lutar que estava lhe afetando agora. Percebeu também o silêncio. Aparentemente Kha’led havia sumido. Novamente sem nenhum sinal daquela imensa fera. O suor escorria pelo rosto do rapaz enquanto a situação ficava cada vez mais complicada.

Suava frio. Klaus tinha se escorado em uma árvore e agora fechava os olhos para poder se concentrar melhor em seu alvo. Tomava como base as experiências anteriores onde combateu com os subordinados de Kraig, mas ali era diferente. O vento batia com uma força mediana que movia árvores pequenas e fazia com que as folhagens produzissem barulhos a quase todo o momento. Era quase impossível se concentrar.

De certa forma, tudo aquilo era frustrante. A sua ainda iria persistir por um bom tempo e suas costelas não iriam sarar com facilidade. Além do mais, era quase impossível ter um lago naquela floresta, o que implicava em dizer que sua regeneração não surtiria efeito. A cada momento que Klaus começava a pensar em algumas oportunidades, todas elas se esvaiam com uma facilidade imensa, complicando cada vez sua situação perante aquele ser que tinha desaparecido. Respirou fundo e se recostou na árvore novamente. O que fazer?

E então ouviu algo quebrar brutalmente. Era a árvore.

Foi algo rápido demais e por pouco, Khal’ed não levava sua cabeça junto. Em um pulo veloz e aparecendo aparentemente do nada, o imenso animal tinha saltado e mordido a árvore onde Klaus se escorava, cortando-a praticamente pela metade. Por sorte, o Meio-Dragão tinha abaixado a cabeça naquele instante, “esquivando” do golpe do imenso cão infernal. O animal rapidamente jogou o “osso” para o lado e virou-se encarando sua vítima. Rugiu mais uma vez e já se preparava para dar início a um novo ataque.

Afinal, de onde tinha surgiu mesmo aquele animal?

O imenso cão estava prestes a atacar, porém, quando ouvir a voz de Klaus estancou. O rosnado no imenso animal era constante e incômodo. Os olhos negros encaravam Klaus com visível irritação. Assim que Klaus terminou de falar, o monstro ainda ficou um bom tempo o olhando. Até que enfim deu sua resposta: mais um estrondoso rugido. Klaus foi arremessado para trás novamente e agora Khal’ed avançava furioso para um embate de vida ou morte. Certamente o animal tinha compreendido tudo que Klaus havia falado, porém, ninguém é doido o suficiente para dar seu sangue a um mero ser desconhecido, nem mesmo um cão de seis metros de altura.

A caçada então se iniciou. Klaus corria e a cada passo sentia que a qualquer momento poderia cair ali mesmo e ter um fim não muito agradável. Esse era o motivo de continuar persistindo cada vez mais e mais. Atrás de si, as árvores começavam a cair, os rugidos ficavam mais fortes e por vezes, Klaus jurou sentir o calor da respiração descontrolada de Khal’ed. Logo mais a frente, porém, existia uma área de clareira. Era exatamente isso que o Meio-Dragão queria. Correu o mais rápido possível para o local e já ponto, virou-se para encarar o imenso monstro...

Que tinha desaparecido. Mais uma vez.

Aquilo realmente era um problema. Klaus sabia, porém, seu modo de ataque. Sabia que o imenso cão poderia simplesmente aparecer em qualquer mesmo não sabendo ao certo como funcionava sua movimentação. De forma inconsciente se perguntou onde estaria Fenrir em uma hora como essas. Tinham mesmo que ter se separado? Por mais irritante que a garota fosse, seria bom tê-la ao seu lado apenas naquele momento.

O vento bateu nas árvores e movendo suas folhas de forma suspeita, o que fez com Klaus voltasse sua atenção à batalha. A questão central agora era saber como Khal’ed atacaria, ou melhor, por onde.