Floresta Allgreen

Andando por entre as árvores, caminhando sem pressa até onde deiara seu cavalo. O animal tinha uma pelagem marrom escura, e seus arreios eram de um material nobre. Kite parecia cansado e meio irritado, mas era difícil definir isso pela sua feição, que era difícil de se ver devido ao cabelo que cobria seu rosto, juntamente com a gola alta. Parecia que tinha procurado algo, e não encontrado.

Montou no cavalo, e fez o animal ir devagar pela floresta, e seguindo pelo pequeno riacho. Depois de quase uma hora, parou à beira d'água, e desceu do cavalo. Deixou que o animal tomasse um pouco de água, e aproveitou para encher um cantil com o líquido.

Ainda enchia o cantil de água, quando ouviu primeiro gritos, depois o som de vários pássaros saindo voando, provavelmente assustados pela estranha voz que parecia gritar por alguém. Kite não se exaltou, apenas olhou na direção do berro, e fechou o cantil, se colocando de pé. Seu cavalo demonstrou sua surpresa simplesmente levantando a cabeça e olhando na mesma direção.

Se levantou e calmamente guardou o cantil d'água em uma bolsa na sela do cavalo, e então virou-se, e desta vez avistou o dono da voz, do outro lado do riacho. Era um garoto estranho, parecia muito cansado, e claramente não estava nada bem. O príncipe arqueou a sobrancelha, poderia simplesmente ir embora com seu cavalo, mas uma pontada em sua consciência o fez lembrar de sua irmã.

— Ah, saco... — Praguejou, e atravessou o riacho, era bastante raso e as pedras não eram tão lisas. Caminhou até o garoto, mas manteve certa distância.

— Está perdido, plebeu? Pelo jeito... Não é familiarizado com aqui. — Falou num tom meio rude, não intencionalmente, era de seu perfil apenas.

Kite ficou intrigado, o garoto parecia não conhecê-lo, o que era meio improvável, a maioria das pessoas da ilha conheciam o príncipe, pelo menos de vista. Não conhecia a cidade do qual ele comentou, nem conseguiu imaginar algo semelhante caso ele tenha dito errado. De certa forma Kite ficou irritado com o modo de falar do garoto, cerrou um dos punhos, mas tentou se controlar, precisava fazer isso. Decidiu não fazer perguntas, iria ficar mais irritado e não estava interessado em saber.

— Perdido mesmo... Venha, devo ter comida na sela. — Falou meio que a contragosto, e atravessou o rio novamente, sem esperar Sora o seguir. Chegou em seu cavalo, remecheu a sacola que tinha na sela, e tirou um embrulho de lá. O abriu, havia um sanduíche com algumas fatias de carne, e uma folha de alface. Um alimento nobre, para viagens longas de seus soldados. Esperou o garoto se aproximar e jogou o sanduíche em suas mãos. — Apenas coma.

— Ora... — Não acreditou que ele tinha perguntado seu nome, era raro alguém da ilha não saber. Mas se acalmou, deveria ser um moleque qualquer vindo de fora, um clandestino de algum navio, que acabou parando ali e se perdendo. — Kite...

Não se interessou em responder a outra pergunta, não estava com paciência para isso. Montou em seu cavalo, quieto, e arrumou seu chapéu. Sempre preferiu que seu rosto não fosse muito visível, e com a cicatriz transversal nele, bem menos. Olhou o garoto outra vez, e ficou nervoso ao lembrar das palavras de sua irmã outra vez.

— Droga... — Falou para si mesmo, e depois se dirigiu a Sora. — Apenas me siga, plebeu. — E puxou as rédeas do cavalo, fazendo-o começar a andar rente ao rio, descendo-o. Como da outra vez, não parava para ver se o garoto estava seguindo-o ou não.

Ao ouvir a palavra "obrigado" pareceu ter levado um leve tapa na nuca, por algum motivo. Chacoalhou a cabeça, irritado, tentando manter-se calmo. Se tranquilizou pelo tempo que o garoto ficou quieto, era o que queria, deixando o cavalo seguir a passo, apenas ouvindo os cascos batendo, a água do rio, os passos do garoto e outros sons característicos da floresta.

Quando Sora abriu a boca novamente, ficou intrigado, não irritado. Mais tranquilo, começou a não se importar por ele chamá-lo pelo nome, afinal não tinha dito quem era, apenas não gostava do tom sempre alegre que o garoto carregava. Ouviu a pergunta, e ficou quieto por tanto tempo antes de responder, que parecia ter ignorado-o por completo.

— Não. — Falou simplesmente. Não deu sinal de que pensou numa resposta, nem que tentou lembrar de algo a respeito.

Ficou satisfeito pelo silêncio de Sora, pelo menos por um tempo. A certa altura nem tinha mais certeza se o garoto ainda o seguia, ficou intrigado, olhando para trás para confirmar, mas quando o fez sentiu uma estranha brisa, que o fez olhar para de onde ela veio. Não era comum, uma floresta fechada não tinha ventos daquela forma. Seu cavalo se assustou e empinou, Kite puxou as rédeas com força, tentando acalmar o animal, mas este parecia muito inquieto para isso. Mesmo com as rédeas puxadas ao máximo, com o animal encostando o queixo no peito, ainda se movia assustado, batendo os cascos dianteiros no chão.

— O que você acha...? — Falou seco para Sora, respondendo uma pergunta de forma imediata pela primeira vez. Não sabia o que se aproximava, mas não era boa coisa.

Começou a se irritar com o cavalo, puxando com força, mas não conseguiu evitar cair quando este empinou de forma violenta. Kite teria batido com as costas nas pedras não fosse ajudado por Sora, mas não gostou da ajuda, se desvencilhou do garoto, nervoso, e olhou na direção que sentia os passos. Quando ouviram o som, Kite avistou as garras, e viu o movimento de Sora. De imediato fez um movimento com a mão esquerda, materializando sua blade de três lâminas. Sem fitar Sora, o empurrou para trás com a mão livre.

— Suma daqui, plebeu. — Falou em bom tom, mas mostrando frieza e controle. Olhava atentamente para aquela mão com garras, apenas esperando o estranho ser dar as caras, enquanto com a mão direita materializou sua outra blade.

Fitou a criatura, não mostrando qualquer surpresa em seu olhar,que mantinha sério e encarava aquele monstro como se fosse um simples soldado que o desafiasse. Viu ele impedir que invocasse sua segunda blade, e deu um sorriso sarcástico.

— Heh... Ainda sobraram lixos de Takaras perdidos por aqui... — Falou, e ouviu Sora murmurando algo. Já achava-o estranho, agora tinha a leve impressão de que ele não batia muito bem. — Saia daqui logo!

Não entendeu porque o garoto ainda não tinha fugido, e se irritou. Postou sua blade em frente ao corpo, como defesa, segurando-a firmemente. A criatura era inteligente, do contrário não seria usuária de magia daquela forma. Mas ainda era só uma criatura de Takaras.

Ainda em posição defensiva, Kite foi se abaixando devagar, e com a mão livre, pegou duas pequenas pedras. Estavam próximos do rio, as pedras eram lisas e perfeitas para arremeço, e foi o que o rapaz fez: Num movimento rápido, lançou-as no rosto daquele monstro, e como areia foi junto, iria retardá-lo por momentos suficientes. Assim que jogou, atacou com sua blade, tendo como alvo o báculo.

Não se surpreendeu diante da esquiva do monstro, e por ele ter transformado seu bastão em uma espada. Quando as blades de Kite se chocaram com a arma da criatura, foi ouvido um som metálico alto, e a espada encaixou-se perfeitamente entre duas das três lâminas da arma de Kite.

— Esta não é sua forma original... ou é? — Falou num tom cínico, devolvendo o comentário na mesma moeda. Viu um pedaço de madeira voar na direção da cabeça do monstro e, aproveitando a situação e a posição das armas, apenas puxou e girou sua blade, fazendo a espada ir junto, saindo das mãos do inimigo e cravando-se no chão. Kite aproveitou a deixa, pegou a própria espada do monstro usando a mão livre e desferiu um golpe diagonal no peito dele.

Sentiu-se satisfeito ao cortar aquela criatura, e ouvir os urros de dor, mas estreitou os olhos quando viu que o ferimento não sangrava, e no mesmo instante que o inimigo encarou Kite, a espada que o príncipe segurava foi arrancada de sua mão por alguma magia misteriosa, e voltou para as mãos do monstro.

— Feh... — Estava irritado, aquela criatura conseguia ser mais cínica do que ele era algumas vezes. Kite ouviu Sora dizer algo, mas não deu atenção, pois ouviu o codenome de sua irmã ser proferido por seu atual inimigo. — Ora...!

Não esperou mais, correu na direção do monstro, saltando com a blade em sua frente, jogando-se junto com a arma ela se cravaria no bicho juntamente com seu peso e impulso, além da velocidade. Caso falhasse, pousaria no chão e viraria-se rápido desferindo um corte na horizontal.