Estalagem Stallion

Sérpico verificou os bolsos, e depois de intensa luta contra um remendo que lhe prendeu a mão, o jovem removeu do oculto o que queria: Uma pistola.

-Kiur, já que mencionou, eu aceitaria munição, se tiver, para este modelo – Mostrando a arma – E aceitaria também uma espada curta, que seja fácil pra ocultar e carregar.

Sérpico pensou em mais coisas, mas pensou se seria mesmo capaz de usar tantas coisas; resolveu que era o suficiente. Certa vez, graças a seu pai, Sérpico treinou com bastões. Não se tornou um artista, mas ao menos descobriu como atacar e defender, seria útil um dia, contra ladrões, em defesa própria, pois Sérpico nunca almejou ser lutador e por isso não aprimorou sua técnica crua.

“Usar uma espada não deve ser diferente”, pensou, estando certo da escolha.

Mas não podia dizer o mesmo em relação a arma de fogo. Nunca usará uma, e esperava nunca ter de usar. Até mesmo a que tinha nunca fora disparada, desde o dia em que a tomou pra si. Sérpico encarou a arma, e em seu intimo, torcia para não ter que usa-la, ao mesmo tempo em que sabia que isso seria impossível.

Sérpico recolheu a pistola, triste em amostra-la sem ter o resultado que queria, no caso, munição. Agradeceu ao garçom, que lhe trouxe a espada curta. A encarou por um tempo, como que negociando com o ferro, para no futuro conseguir usa-la de forma útil, e começou a escolher um bom lugar para oculta-la, por dentro da sobrecasaca.

Aguardou, assim como todos. Sua curta paciência aos poucos se desenhava em sua face. Mas, se distraiu bastante com o aquecimento de Aldarion. E se sentiu melhor ao ver que de fato o jovem era bom lutador, isso lhe emprestava um pouco mais de confiança. Diante da sentença final de Aldarion, Sérpico quis responder à honraria, mas não saberia como o faze-lo, por estar um tanto atordoado: Aquele que o fizera rir a horas atrás, assumia uma postura seria e confiante. Sérpico meneou a cabeça positivamente.

-Falando por mim, eu acho que a honra será toda minha!

Mudanças de planos. Agora, o grupo deveria ir até a Ilhas Gemeas, e encontrar Kai. Sérpico teve um puxão de memória, e assentiu. Se levantou, seguindo todos para fora da estalagem. Ouviu as palavras de conforto de Aldarion sem dizer nada, apenas concordou com um riso, e se pôs a caminhar.

Às margens da praia:

-Tem um banco de areia em algum lugar aqui, que nos levará ate as Ilhas – Disse, abriu bem os olhos e: – ali!

Guiou o grupo pelo caminho, que daria ate uma das ilhas. Da ultima vez, avistou de relance um navio, como em ilusão. Dessa vez Sérpico, entretanto, estava ciente de que não seria uma ilusão. Enquanto caminhava, resolveu adiantar o percursso.

-É simples. No centro da ilha onde estamos indo, existe uma casa, devemos somente atravessar uma floresta, ou, se preferem, podemos ir pela costa, o que pode ser mais arriscado, já que ficaremos visíveis.

Na verdade toda essa minha preocupação podia ser ansiedade, ou qualquer coisa desse tipo. Vai ver não era nada de mais e eu estava preocupado a toa. De qualquer maneira não abaixei a guarda, continuava atento e caminhando, não dando muita bola para a manha de Charlotte, na verdade detestava quando ela agia dessa maneira diante de algo que eu acreditava ser sério. Era o jeito dela, mas isso não queria dizer que eu a mimaria, estava preocupado demais para isso. Continuei juntamente com ela rumando em direção a Estalagem, que se tornava mais próxima à medida que íamos caminhando. — Espero que nos ajudem lá... — Eu permanecia incomodado com aquele clima, olhava para trás e para todos os lados, para o céu também, mas continuava andando. Logo havíamos chegado e ainda de mãos dadas com a mulher, entrei no lugar, prestando bastante atenção em todo o recinto por pura cautela, não relaxaria tão cedo naquele lugar, estava sentindo isso. Queria muito conseguir ficar um pouco mais tranquilo, mas não conseguia controlar. De qualquer maneira nunca era demais tomar cuidado, as possibilidades de nada acontecer eram as mesmas de algo acontecer, era melhor estar preparado para qualquer coisa.

Victor continuava sério e carrancudo, eu apenas permaneci em silêncio brincando mentalmente com as pegadas que eu ia deixando na areia. E tentava andar ritmada aos sons das ondas, assim bem infantil. Contudo, pareceria que eu estava andando rápido e com pressa de chegar a tal estalagem quando na verdade eu não estava assim tão empolgada. E que não me culpem, mas ninguém acorda depois de nadar quilômetros na empolgação suficiente de correr maratonas. Enquanto Khal preocupava-se (o que eu achava atoa) eu divertia-me sozinha. Bem autosuficiente. Não é que ele não tivesse razão, mas o problema não vai mudar por você se preocupar, por reclamar, na verdade só faz com que fique ainda pior. E ficar estranhando um clima estranho de um local estranho era meio sem sentido para mim. As coisas ali seriam diferentes, e não era isso que vínhamos buscando? Enfim, fiz todo o percurso bem quietinha, e quando me dirigiu a palavra apenas anuí. Se nos ajudassem ou não, a mim tanto faz, seria melhor se sim, mas fui ter uma casa de verdade demais de grande, aprendi a me virar sozinha desde muito cedo, e desde muito cedo aprendi a levar tudo com leveza. Deixando de lado a preocupação descomunal, a estalagem me pareceu um lugar simples, e não amedrontador, ou talvez precisasse de muito para me amedrontar. Entramos no lugar juntos, e não havia ninguém, por enquanto. E bem, eu não era de ficar esperando. – Olá? Tem alguém? Falei alto suficiente, olhando para Khal e encolhendo os ombros, numa expressão de dúvida. O que fazer?