Arredores da Cidade

Depois de tanto tempo na escuridão e na desolação daquela mata fechada, onde nada parecia fazer sentido e onde parecíamos rumar a lugar nenhum, uma luz finalmente apareceu para nós. Uma trilha se formou nos revelando uma direção para seguir, finalmente. Não que eu estivesse cansando, mas caminhar sem destino era um tanto quanto chato demais. Após seguir pelo caminho designado a nós, chegamos a uma clareira e ao seu centro uma casa, rodeada por ossos, um lugar absolutamente estranho. Não que em algum momento desde que pisei naquela terra algo não fosse estranho, mas essa imagem era particularmente ainda mais. Não quis prosseguir, na verdade um sentimento me invadia, o de hesitação. Abri a boca para falar algo com Charlotte, mas meus sentidos foram entorpecidos após os ruídos nas árvores, algo surgia e trazia consigo uma onda de sonolência que me fizeram rapidamente perder os sentidos e então tudo escureceu. Acordei então em outro lugar, totalmente desconhecido por mim. Abri os olhos custosamente e ergui o tronco, olhando em volta ainda sentado na grama. Avistei minha mulher logo mais a frente... — Como viemos parar aqui? Esse lugar... Totalmente diferente da ilha que estávamos. Não compreendo. — Ainda coçava a nuca, desnorteado. Talvez todo esse mistério que gira em torno dessas terras ainda me pegasse de surpresa em muitos momentos e certamente ainda pegaria muito, mas a questão é que eu não conseguia compreender, minha lógica falhava e minha capacidade de raciocínio se via reduzida a quase nada, sendo que eu nada podia concluir ali. Mas gostava dessa sensação, primeira vez na vida que eu não tinha o controle sobre os meus caminhos, porque ali eu era guiado por tudo, menos pela minha cabeça. Levantei-me completamente, indo em direção a Charlotte e estendendo a mão para que ela se levantasse também. Era possível se ver trilhas, uma estrada, o plano agora seria seguir a trilha e ver onde iria dar, até ser abduzido por ET’s e acordar dessa vez em Marte, eu já nem duvidava mais de nada.

Andamos ainda mais pela mata, eu já muda, com as pernas em cansaço e os pés inchados. Fazia muito tempo que estava despreparada para viver assim, sem condições de subexistencia. Desde Victor em minha vida que eu era saltos e champagne, muito longe da garotinha de rua esperta e treinada. Mas não abri a boca para levantar uma reclamação sequer. De algo daquela vida que hoje parece tão longinqua eu guardei, uma resistência maior a dor. Os espinhos entravam e furacam a carne sem que o arranhão persistisse em ardencia. Como Khal estava a frente, de primeiro momento não notei a obstinação dos passos mais precisos, como de quem sabe para onde esta indo. Só depois vi que estavamos em uma trilha, e muito mais que isso a memória me falha, com uns flashes de luz, cansaço e uma insistencia inutil em permanecer alerta. Antes mesmo de cair como pedra ao chão, eu já estava num sono profundo e sem sonhos. [...] O abrir dos olhos foi dificil, a luz ofuscante que doía os olhos, a falta de foco e a tontura na cabeça. Odiava perder os sentidos, ou qualquer mínima afetação deles. Agarrei-me a mão de Victor, levantando e girando lentamente em torno de mim mesma. Realmente não estavamos no mesmo lugar. A vegetação era totalmente diferente, rasteira, com trilhas diversas e gastas pela passagem de pessoas. De algum modo sentiamos que estavamos em um lugar melhor. Contudo, que lugar e como fomos parar nele seguia um mistério. – Atacando de Sra. Obvious, eu diria que tem a ver com o clarão e o sono induzido. Provavelmente inalamos alguma substancia sonífera que alguém lançou e nos trouxe até aqui, abandonando. É o que me zoa mais plausivel. Quanto a suas motivações é que não tem nexo. Analisei os caminhos que poderíamos tomar. Fazendo até uma cara de quem entende do assunto. – Se eu fosse sugerir, diria para irmos por essa daqui. Apontei – É a mais gasta, logo um numero maior de pessoas passou por ela. Deve levar a algo importante e/ou movimentado onde poderemos descobrir mais informações. O que acha? Ainda olhava para a trilha, procurando algum indício, alguma dica que talvez ali estivesse sutilmente. Até para qual direção seria melhor, norte ou sul?

Após acordar naquele lugar absolutamente diferente de onde nos encontrávamos antes, seguíamos pelo caminho que Charlotte indicou, parecia ser bem lógico, então não discuti. A sensação de estar completamente perdido no espaço e no tempo me deixava confuso e atordoado, sinceramente não apreciava a ideia de não ter o controle sobre a situação em que eu me encontrava e isso de me deixar levar pelo que ia acontecendo era arriscado. De inicio foi até interessante, mas eu sentia uma ligeira falta de algo estável, além do meu amor por Charlotte, claro. O calor naquela terra era torturante, o que me deixava ainda mais confuso. Meus neurônios pareciam estar sendo torrados, podia jurar que estava sentindo o cheiro de queimado deles bem ali diante do meu nariz, mas devia ser apenas os efeitos do enorme calor em ação. Porém algo era ainda mais estranho em tudo aquilo que acontecia, eu me sentia tomado por uma força externa, algo que se apoderou de mim sem nem pedir permissão, tentava ao máximo me manter em mim e pensar logicamente nos fatos, até que uma imagem se formou logo a frente, a silhueta de uma mulher ruiva e belíssima. — Quem...? — Em meio ao amarelo do sol escaldante, apenas a cor viva e quente de seus cabelos se sobressaíam e pareciam ampliar em mil vezes a temperatura. Meu rosto pingava incessantemente gotas de suor, eu passava as costas das mãos na testa pra retirar o excesso e apertava os olhos pra enxergar melhor a mulher... A força me incitando a me aproximar. Por instantes preciosos esqueci completamente quem eu era, com quem eu estava, de onde eu vinha e o que buscava. Tentava lutar contra a força que não me deixava desgrudar os olhos da mulher que se aproximava cada vez mais de nós, tentava lutar contra o que não era eu, dentro de mim.

Como eu detestava o calor! Eu realmente odiava o calor. Tudo fica mole parante o sol, o vigor dos meus musculos parecem não reagir na mesma agilidade, meus pensamentos parecem preguiçosos, e meus passos arrastados. E continuar era um sumplício, exercítar-se ainda que minimamente era bastante torturante. Eu poderia viver nua na Síberia com a casa feita de gelo e tudo estaria bem para mim, mas com o calor não. Não digo o fogo, esse me chama e fascina, mas esse calor abafado que não há lugar algum para correr. Fazia algo dentro de mim agitar, algo que eu não sabia dizer o que era, que parecia estar compridido entre o estomago e o diafragma, algo que queria rasgar gritar com sua própria voz. Alguma tinha acontecido naquele trajeto em que viemos parar aqui, alguma coisa que colocou dentro de mim um descontrole. E eu pendia a querer deixar me consumir, apenas recostar no canto da estrada e deixar-me consumir pelo que quer que fosse. E talvez eu fosse mesmo fazer isso, se ao longe não visse uma mulher andando de nosso encontro, ruiva, e bastante bonita. Se eu gostasse de ruivas, claro, pois tenho uma teoria que nem o horario nem a idade dos leitores me permitira escrever. De qualquer maneira, não gostava nada da forma como ela fixara o olhar sobre o Victor, sem desviar. Abri a boca para falar algo com ele, mas fechei o rosto. Ela me era insignificante, mas a forma como ele olhava para ela sem ao menos piscar... Minhas pupilas dilatavam quase fazendo sumir a cor clara dos meus olhos deixando num negro profundo, e levemente minhas mãos tremiam. Uma raiva incontida. Uma raiva que Victor já conhecia, que já tinha marcado em cicatriz na pele dele na clavícula quando tentei matá-lo. Contudo, dessa vez era diferente, pois não tinha sentido, principalmente porque a raiva não vinha do coração, mas daquele obscuro e gritante entre o estomago e o diafragma. Não dei um passo sequer para frente, com todos os musculos rijos. Mas Victor dera, ele dera passos em direção a ela, o que só piorava o meu estado. Em todos os sentidos. Eu quis falar, mas não consegui, talvez no fundo quisesse pagar pra ver o que ele iria fazer, o que ia acontecer. Maldita terra estranha!

Aquela mulher no fundo me incomodava, mas o que transparecia era o estado de hipnose em que eu me encontrava, completamente vidrado nela. Quando finalmente ela chegou perto de mim, se jogou subitamente em meus braços, tomando-me num beijo que mais parecia o beijo da morte e talvez fosse. Sentia minha energia se esvaindo ao mesmo tempo em que a sensação de prazer me preenchia, buscava forças dentro de mim para me desfazer daquele beijo, buscava entrar em contato com o meu verdadeiro eu ali, inebriado no meio daquele controle que algo fazia sobre meu corpo, mas era inútil. O que me controlava era o sentimento de não querer cessar aquele beijo. Mas o beijo só foi cessado quando a mulher assim quis, empurrando-me, fazendo-me quase cair para trás. Estava fraco, mas sentia que aos poucos minha força voltava e também a minha consciência. Agora eu era eu novamente, porém confuso. Era como se eu estivesse vendo aquilo acontecer com meu corpo de fora e não pudesse interferir e finalmente readquirido os poderes sobre mim. E a sensação que me invadia era de um misto de hesitação e raiva que faziam meus olhos negros ficarem ainda mais. Não sabia do que aquela criatura era capaz, logo não sabia como agir, nem pretendia atacar até que conseguisse informações sobre o que ela queria. Olhei para Charlotte que parecia estar praticamente explodindo com toda aquela situação, quis me aproximar, mas estávamos um pouco longe, eu entre ela e a mulher. — O que você quer comigo? O que fez comigo? — Perguntei para a desconhecida. Tentei controlar minha voz e cuidar para que não falhasse diante do atordoamento de toda aquela situação. Esperava também que Charlotte compreendesse que não era eu ali, beijando aquela estranha, estava sob efeito de algum feitiço, o que não era mais novidade naquela terra estranha e misteriosa. Não tinha como explicar para ela agora e sentia que não devia recuar até ela, sentia que devia prestar atenção nos atos daquela mulher e evitar que ela se aproximasse da minha mulher.

Primeira coisa notei foram os chifres e a calda da mulher, sinceramente que nojo!. Já não agraciava-me com figuras de anjos, pois asas, penas? Fedem a pombo. Agora aquela mulher bode, ou cabrita ou seila que bicho tem chifres enrolados.. Quer dizer, eu sei de um, o Capeta, mas esse certamente não era ela. Era eu, o diabo morava e estava no meu corpo, fervilhando sob minha pele, aquela vontade gritava no talo de minha garganta e meus olhos agora negros manchavam-se no sangue de que queria ver aquela mulher manchada. Eu, a princípio, respirava pesado, arfando, enquanto os passos agora parecendo leves e fáceis me guiavam até ela. E tudo acalmou, a respiração, o rosto franzido, dando lugar a uma concentração e um leve sorriso sádico em minha boca que se comprimia. Não existia chão, nem ar, nem mesmo calor. Eu não tinha bem certeza do que faria, mas quando ela insultante falou, agi num instinto que eu mesma desconhecia, enfiando minhas mãos em seu pescoço sem titubear, até ela levemente abrir a boca a procura de ar, então era o que eu esperava. Enfiei uma das mãos na boca, cavando os dedos por tras dos dentes inferiores e a outra soltara do pescoço, a segurando pela testa. Um puxão e um estalo forte. Havia quebrado sua mandibula. Seja o que ela fosse fazer contra mim, já era de imenso prazer o seu eterno silencio agora. Meus dedos tinham sangue, provavelmente das unhas cravadas na gengiva, ou até de meu próprio. A adrenalina me impedia de sentir qualquer dor agora. E ademais eu gostava da cor, do cheiro acre do líquido escarlate. Tinha algo de muito errado comigo, não me reconhecia, mas no momento eu não tinha consciencia alguma sobre isso, muito menos para parar. Chutei longe a ruiva, e não lancei um mínimo olhar para Khal, ou ele colecionaria cicatrizes feitas por mim. – Disponha Proferi numa voz metalizada, rouca.. longe da voz delicada que costumo ter.

Tinha que organizar meus pensamentos, as coisas aconteciam rapidamente e eu mal tinha tempo de ligar os fatos e saber o que deveria fazer primeiro. Mas assim que meus olhos encontraram os de Charlotte, tive a certeza do que deveria ser feito. Antes que eu pudesse tomar alguma atitude ela avançou contra a ruiva com o braço erguido e punho fechado. Dei um passo pra tentar contê-la, mas a ruiva foi ainda mais rápida. Escutei calmamente suas palavras e um ar preocupado tomou conta de mim. Minha vontade era por a língua para fora e ficar que nem um retardado tentando ver se existia realmente essa marca em minha língua, mas eu não duvidava, conseguia sentir que essa marca existia, como também que estava fortemente ligada a minha vitalidade. Não conseguia suportar a ideia de que precisava daquela mulher para me livrar dessa maldição, mas era isso ou morrer. — Ela não vai te matar. Nos dê um instante... — Falei ríspido para a mulher ruiva. Estava estranhamente calmo para quem estava com sua vida dependendo de um demônio ensandecido a procura da vitalidade das pessoas. Segurei Charlotte pelo braço e a trouxe, não com tanta facilidade diante da raiva que eu via tomar conta de seu corpo, ela estava certamente pensando que eu beijei aquela mulher por vontade, mas eu precisava explicar à ela. — Ouça, Charlotte. Eu não sei o que aconteceu, mas ela lançou uma espécie de feitiço em mim, deve fazer parte da maneira que ela faz pra obter a vitalidade das pessoas e ela me escolheu pra isso, não tive escolha... Não fiz por querer, jamais faria... — Segurei suas mãos entre as minhas enquanto a olhava nos olhos, como quem suplica por um voto de confiança, eu havia prometido a ela fidelidade e jamais quebraria isso, esperava que ela conseguisse lembrar-se disso. — Eu não sei se o que ela diz é verdade, mas essa coisa está aqui e eu sinto que me suga pouco a pouco. Por favor, me ajuda. Eu preciso que você fique comigo. — A essa altura minha calma já havia desaparecido e dado lugar a quase um desespero. Esperaria a resposta de Charlotte antes de falar o que quer que fosse com a mulher. Se fosse decisão de minha mulher não me escutar e não querer acreditar em mim, optando assim pela minha morte, aceitaria e não contestaria, nem seguiria sozinho. Não era essa a finalidade de todos os riscos corridos até agora: seguir sem ela.

As palavras dela me deixavam ao ponto de matá-la de fato. Por alguma razão que eu desconhecia, não conseguia raciocinar, não conseguia mudar meu pensamento que não vê-la banhada em escarlate. Era um só sentimento que dominava, de raiva, de desejo de sangue. Imagens nítidas e detalhadas de uma atrocidade que eu bem poderia fazer passavam de vislumbre aos meus olhos e proporcionavam um prazer doentio. Então, quando ela pousou sua mão em meu pescoço, assinara sua sentença. Ao me tocar, estava morta. O sorrisinho sádico reapareceu e no mesmo instante comecei um movimento que nunca cheguei a terminar. Era como ter recebido um choque, o toque da mão gelada de Victor descarregava em mim uma carga elétrica que me fez estremecer. Não que ele realmente estivesse com carga, era o fato de ele me tocar. Fiquei com mais raiva ainda, de princípio, por ele ter interrompido. No entanto, a medida que falava meus olhos perdiam toda a escuridão que se encontravam, voltando a pupila ao normal, e a cor num profundo azul, e triste. Minhas começaram a tremer dentro das suas de nervosa, e os olhos, ali escondido no cantinho, o desespero. Ele veria, e só ele. Minha mão procurou seu rosto, contornando com a pontinha dos dedos, como eu sempre fazia. Não queria ter saído do estado de raiva, era melhor que compreender que ele estava sentenciado. Recostei meu rosto em seu peito, ouvindo seu coração bater ali forte, aliviando-me momentaneamente. Sobre seus ombros olhei rapidamente para a demônio que cheirava a podridão, senti a raiva novamente borbulhar, então respirei fundo, fechei os olhos, e desliguei. Quando tornei a abrí-los, restavam neles apenas um vazio imenso e nada ali se encontrava, nem em meu rosto qualquer expressão, nada. E não importa o que ela viria a fazer, que poderia poderia ter, e as formas que quisesse me provocar, ela não veria nada. Nem um vislumbre, nem uma idéia. Caminhei até ela, com os mesmos passos e caras e bocas que se anda sem rumo e sem pensamento. – Quem pode quebrar o lacre? A voz, dessa vez, era a minha, mas tão automática e sem emoção que se eu estivesse perguntando sobre o tempo, não se veria diferença. Procurei por Khal, para ver se ele estava perto, queria o perto – de mim. Queria muito, muito mesmo poder ficar a sós com ele. Fiquei contente ao constatar que sim, ele estava ali, e principalmente que ele podia ver que ele sempre podia ver através dos olhos.

Após conversar com Charlotte senti como se um peso enorme tivesse saído de meus ombro ao ver em seus olhos que ela havia entendido. Quis beijá-la mais do que tudo ali, naquele instante, mas antes que eu pudesse fazer ela já havia se afastado. Respirei fundo e caminhei logo atrás dela, não saindo de perto em nenhum instante e aproximando-me também do demônio. No entanto, assim que aquela maldita começou a movimentar os lábios e falar, a raiva não deixou de percorrer-me as veias e fazer pulsar com uma velocidade furiosa o sangue nelas existente e mesmo com o receio da morte, não pude controlar a raiva que sentia. Agarrei minhas mãos no pescoço da desgraçada com uma força brutal. — O que você está querendo dizer com “talvez”? Está querendo me fazer de idiota? — Soltei seu pescoço, empurrando-a para trás ao fazê-lo e dando as costas, transtornado. Não era possível isso, só podia ser uma espécie de aprovação. Teria mesmo que me sujeitar a caminhar por terras desconhecidas com um lacre na língua sugando-me a vida e dependendo de um demônio para manter-me vivo, procurando um mago que “talvez”, vejam bem, “talvez” possa me ajudar retirando o maldito lacre... Não obstante, eu não tinha nenhuma outra opção de sobreviver a não ser acreditar nela. — Iremos com você, demônio. E desculpe o pequeno ataque de raiva, você pode compreender né. Na sua longa estrada de sanguessuga já deve ter topado com reações parecidas... — Falei, já mais calmo, ao voltar-me para as duas mulheres, tanto Charlotte como a outra lá. Algo me dizia que não deveríamos confiar nela, mas por hora isso era a única coisa a ser feita.

Continuava com a mesma expressão de paisagem diante das palavras do demônio. Já bem sabia que até de fato conseguirmos encontrar alguém que consiga quebrar o lacre posto no meu marido, ela nos faria um tanto de idiotas. Então não me era surpresa alguma o talvez que tanto enebriou a mente de Victor em raiva. Tão pouco esbocei reação a seu ataque, pelo contrário entendia e muito bem o que ele estava sentindo. Contudo, e sem parecer conformista, sabia que as cenas agora em nada adiantariam e eu sabia ser paciente, muito paciente quando necessário. Já percorria na minha mente algumas medidas a serem tomadas, bem como tecia minha nova teia de situações, tudo sob a capa sem expressão que eu era. Assim que Victor retomara a si, e retornara a mim (mais importante, é claro), voltei a atenção a criatura. – Pois então vamos a Calm, não vejo porque perder tempo nesse meio de nada. Mostre o caminho. Enquanto esperava o demônio tomar a frente, peguei a mão de Khal e o puxei para perto de mim, entrelaçando meus dedos nos seus e fazendo um carinho leve e sutil com eles. Tinhamos ficado só nós dois um bom tempo, antes mesmo de chegar a essa terra, e já sentia saudades de sermos dois. (ou um ;]). Troquei olhares com ele, olhares de cumplicidade e compreensão. Queria poder ter a privacidade de conversar com ele, mas não sentia-me confortavel com ela por perto para falar qualquer coisa, uma desconfiaça que via-se estampada também em Khal. – É quanto tempo daqui, Calm? Quebrei o silencio, mas já estava claro que seria uma viagem insuportável.