Rio Coldreams

*Ayame estava sangrando, ferida, fraca. Era a única coisa que se passava na cabeça de Haseo e o que fazia-o continuar a se mover. Sentia o calor da loba em seu corpo, o que apenas confirmava que ela ainda estava viva. Foi quando notou um homem se aproximar para ajudar. Quando ele tirou Ayame de suas costas, Haseo quase desabou de cansaço. Aquilo não tinha terminado ainda, teria que ter certeza de que a loba estaria segura.*

*Quando vestiu o casaco, sentiu-se um pouco melhor, conseguindo se endireitar. Mas sua visão ainda estava turva, mal tinha energias para se manter em pé, e o sangue que escorria de sua cabeça já havia congelado. Ignorou o cão negro, seguindo então o caçador.*

Por favor, cuide dela... *Falou no tom mais alto que podia, o que não era muito. Odiava depender de qualquer um, ainda mais de estranhos. Mas seu estado não faria bem nenhum a Ayame, muito menos seu orgulho.*

*Ao entrar na casa, não sentiu o alívio que esperava. Ainda continuava cansado, seus olhos entreabertos, acompanhando de perto qualquer movimento que o caçador fazia ao carregar Ayame. Quando ele a deitou na cama, recusou-se a fazer o que lhe foi dito*

Não vou me deitar até ter certeza de que ela está bem. *Sua voz falhou um pouco, e Haseo se aproximou da loba. Se agaixou ao lado da cama, apoiando um joelho no chão, e deixou seu braço ao lado do dela, segurando sua mão. Imaginou que aquilo não iria atrapalhar os cuidados a ela. Quando Ayame acordou, Haseo suspirou aliviado. Sentiu seu calor quando ela pegou seu braço.* Continue deitada... está segura agora.

*Não a deixou se levantar, empurrando-a levemente para se deitar denovo. Com as duas mãos envolveu a dela, tentando manter os olhos abertos. Estava no seu limite, mas não iria descansar até ter certeza de que Ayame ficaria bem.*

Ele fugiu. Agora fique quieta e descanse. *Lançou um olhar fraco para o caçador. Ainda não confiava nele, mesmo não tendo escolha. Ele certamente estava mais conciente que Haseo no momento.*

*Ouviu o pedido de Ayame, mas não se moveu. Segurou firme a mão dela quando ela fraquejou, estremecendo. Assistiu Robert tratando dos ferimentos da loba, mas o olhar de Haseo estava perdido, cansado, e sua visão estava turva. Só conseguia ver o rosto de sua amada e ouvi-la. Só percebeu que o homem saiu do quarto quando sentiu o cheiro da comida. Foi revigorante de certa forma, e lembrou-se o quanto estava faminto.*

Heh... *Forçou um sorriso com a pergunta da loba, segurando a mão dela, entrelaçando os dedos.* Não sei dizer, mal consigo pensar. *Tentou demonstrar que estava melhor, mas não conseguiu muita coisa. o maximo que conseguia era forçar um sorriso* Muita coisa para um dia... Mas não fale mais nada, apenas durma.

Feh... *Odiava ser repreendido por Ayame, e por um estranho nem se fala. Quando a loba pediu a Robert aquilo, Haseo o encarou de forma agressiva, o desafiando a se aproximar. Pegou o prato dela e colocou-o na cama. Se sentou ao lado de Ayame, a erguendo um pouco, o suficiente para ela poder comer, e a apoiou em seu corpo*

Nao vou descansar um segundo enquanto você não encher a barriga. *Pegou o prato dela em mãos. Se ela não tinha forças para levantar um garfo, ele o faria. Mesmo contra a vontade dela, pegou pedaços de carne na sopa, levando à boca da loba, a obrigando a comer. Tinha certeza de que ela também estava faminta, e não resistiria muito. Continuou a alimentá-la com toda paciência existente.*

*Se assustou com a reação de Ayame, e quando foi empurrado por muito pouco não derrubou o prato no chão. Se levantou, surpreso, vendo-a se deitar denovo. Esperou ela se acalmar*

Ok, não vou te obrigar... Mas estou morto de fome. *Sentou-se ao pé da cama, suas pernas mal aguentando seu peso enquanto estava em pé. Deixou o prato de Ayame de lado e pegou o seu. As primeiras colheradas o revigoraram, seu estômago finalmente recebera comida. Devagar, foi comendo primeiro os pedaços de carne, terminando por tomar o caldo virando o prato. Soltou um suspiro aliviado, satisfeito. Com isso, conseguia pensar melhor. E logo veio o pesar.*

O que Antares disse... *Murmurou mais pra si mesmo. Lembrou-se das palavras do vampiro, de sua ilusão e da imediata desilusão e dor. Não havia lembrado antes por ainda estar sobre o efeito da transformação, mas agora tudo veio à tona. Deixou o prato sobre o criado-mudo, e apoiou os cotovelos nos joelhos, segurando a cabeça com as maos. Seu cabelo ja estava maior desde que Ayame o cortara, o suficiente para lhe cobrir o rosto.* Fui idiota em não perceber...

*Se irritou, apertando as maos. Se ergueu num salto, encontrando forças sabe-se lá de onde.*

Você é idiota, Ayame?! *Levantou a voz sem perceber. A olhava com um misto de fúria, dor, incompreensão.* Você fala como se isso fosse algo qualquer! Mas estamos falando do nosso filho! Ou isso não importa pra você? Será que os youkais não se importam com...

*Foi quando caiu a ficha, e cerrou os dentes. Era óbvio porque ela agia daquela forma, como se fosse melhor ter perdido o filho. Haseo lembrava-se de cada noite do casal, cada vez que se deixaram levar pela paixão e pelo desejo, que seus corpos se juntaram no íntimo quente e intenso. Como Haseo era amaldiçoado, não achou que pudesse fazer um filho. Isso significava que ele poderia ter uma vida normal, formar uma família, e com a mulher que amava. Isso se destruiu quase no mesmo instante, quando Antares revelou que ela havia perdido o bebê. E ela agia como se não se importasse? Como se estivessem falando de trocados que deixaram cair no caminho?*

Meio-youkai... *Murmurou, os olhos cerrados. Começou a se lembrar das palavras de Antares, que ouviu quando estava transformado, mas elas vinham a tona agora.* Seria demais pra você? Dar a luz a um sangue impuro... Esqueci como vocês pensam disso... *Virou a cara, a dor no corpo se acentuando, mas ignorando isso. O pior no momento era lembrar que nao se passava de um humano, inferior, um lixo perto da loba*