Portal do Inferno

Haar se via em meio à escuridão. Nada via, nada sentia, a não ser o chão sob seus pés. Gritava, porém sua voz se perdia, sequer oferecendo um único vislumbre de eco sequer. Não havia nada.

E sentiu um enorme peso sobre suas costas.

Nada havia em seu corpo, nenhuma criatura o atacava, nada explicava aquele estranho peso que fez Haar encarar o chão. Ah sim, o chão. A escuridão se fora, e a primeira coisa que o guerreiro notou foi um chão batido de terra tão seca que parecia não virar pó por muito pouco. Com um belo esforço, ergueu o olhar, tentando endireitar as costas.

À sua frente Haar vislumbrou os gigantescos portões do inferno. Enorme portas de um material desconhecido pareciam queimar os olhos do guerreiro apenas por ele a fitar. Toda a estrutura do portal causava um terror imenso e exibia um poder que apenas existia naquele lugar. Um poder que nunca poderia sair daquele mundo, mas que estava ali apenas esperando para dilacerar as almas dos desafortunados.

Se olhasse para trás, Haar não veria nada além da escuridão. Era como se nada existisse naquele mundo além do caminho à sua frente. De ambos os lados extendiam-se campos secos de árvores retorcidas, e o pouco que foi possível ver através da névoa baixa fez o estômago de Haar se embrulhar.

"Prossiga"

Uma voz rouca soou dentro da cabeça de Haar, causando uma dor latejante. Não poderia voltar, e seus gritos foram totalmente ignorados e levados pelo nada. Poderia ficar ali, esperando eternamente, o estúpido peso em suas costas o empurrando para o chão.

As enormes portas rangeram, abrindo-se lentamente para dentro.

Haar não sabia o que via dentro do portal. Luz? Sombra? Fogo? Gelo? Parecia uma mistura de tudo e a existência de nada.

Os passos de Haar seguiram-se em direção ao portal. Medo? Angústia? Dor? Não sabia se sentia a soma de todos, ou o extremo de cada. Apenas sabia que estava indo para sua única opção. Como se tivesse escolha.

Entrou naquele estranho turbilhão de existência e inexistência, e num instante tudo ficou novamente naquela escuridão. O guerreiro pode ouvir, atrás de si, os enormes portões fecharem-se lentamente. Só este momento pareceu levar anos.

Começou a sentir frio, muito frio.