Cemitério

Apesar de estar em sua forma humana, Haseo não se cansou e nem sequer se intimidou diante do cemitério. Já havia passado por aquelas terras, era apenas uma questão de tempo para estar ali devolta, ao menos por um bom motivo. Ignorou os sons dos corvos e zumbis, e encarou a mansão.

— Feh... — Clássico: um vampiro que mora no meio de um cemitério. Deveria ter adivinhado, ou apostado, e ganhado uma boa quantia, só não sabia de quem. Pensando bem, não gostaria de fazer uma aposta com Ayame, nem queria saber o que aconteceria caso ela perdesse.

Não se prendeu aos detalhes da casa, apenas memorizou os corredores e escadas. Suficiente. Quando notou o sumiço do demônio, bufou irritado.

— Grande guia covarde. — Murmurou. Logo, estreitou os olhos para Ayame devido ao comentário da mesma. Preferiria não pensar no que estava se passando na cabeça dela, ou até mesmo em sua própria.

Ao subir as escadas, fitou Ayame dirigindo-se ao corredor da esquerda. Por algum motivo Haseo sabia o que ia acontecer, mas algo lhe obrigava a fazer o contrário do que queria fazer. Bufou, e andou pelo corredor à direita. Caminhou propositalmente sem preocupar-se em fazer barulho, nem mesmo tentava abrir as portas. Sua cabeça ainda estava em Ayame às suas costas. No fim do corredor, Haseo virou à esquerda.

Não gostava do silêncio daquela casa. Andava sem se preocupar com o barulho para certificar-se de que era o único que o fazia; qualquer outro som era suspeito. Começou a se irritar quando novamente teria de virar à esquerda no corredor. Desta forma iria dar a volta e encontrar Ayame.

Fitou antes as duas armaduras. Tinha muitas delas pela casa, poderiam ser úteis. De uma delas Haseo pegou a espada, fez alguns movimentos com a mesma, certificando-se que ainda estava boa. Não parecia ter uso.

Por fim virou o corredor, e o cheiro da loba veio à tona. Já imaginava que ela nem olharia na sua cara e que trataria de pegar outro caminho. Bufou irritado, era típico.

Foi quando notou a blusa da loba, e arqueou a sobrancelha. Reconheceria aquela peça em qualquer lugar, ainda mais no chão. Pegou-a em mãos para ter certeza, o cheiro da loba era inconfundível, ainda mais pra ele.

Não tinha erro, era realmente a blusa dela, o cheiro era inconfundível. Pensou em vários motivos para aquela peça estar ali, a maioria o mais inocente possível, até que sua visão foi atraída por um movimento mais à frente: outra peça de roupa. Andou até a mesma e pegou a calça em mãos. Ao virar o corredor, deparou-se com o sutiã da loba, o qual nem precisava ver de perto para reconhecer. O que estava acontecendo ali?

— Só pode ser brincadeira... — Murmurou para si mesmo. Jogou no chão a blusa e a calça que segurava, e segurou firme a espada, os nós de seus dedos ficando brancos de tanta força que fazia. As sombras o deixaram tão irritado quanto o turbilhão de informações e suposições que assolavam sua cabeça.

Sem pensar nem mais um minuto, chutou a porta com toda força que tinha, a abrindo com tudo.

Quando encarou a escuridão, sentiu-se primeiramente acuado. Mas quando a luz preencheu o aposento e notou que tudo não passou de uma ilusão idiota, ficou aliviado. Quase ao mesmo tempo se irritou, aquele desgraçado pagariapor isso. E qual não foi sua surpresa ao notar o suposto vampiro analizando um quadro calmamente.

Fizera barulho ao andar, Antares viera atrás dele, Ayame estava a salvo. Ótimo.

— Você realmente é um desgraçado, Antares.... — Cerrou os punhos, segurava firme a espada, enquanto encarava o vampiro. O ódio tomando conta de seus olhos, lembrando de tudo que passara por causa dele. Sem se dar conta, o corpo de Haseo lentamente era coberto pela armadura de sua transformação.

Cerrou os dentes diante das palavras de Antares, parando a transformação com relutância. Mesmo assim estava pronto para lutar a qualquer momento, não baixando a guarda. Tanto que ouvira os passos vindo detrás da porta na parede contrária, não se surpreendendo ao avistar Ayame. Quase no mesmo instante o vampiro fez o quadro desaparecer, o mesmo que mostrava uma mulher parecida com a loba. Decididamente não gostava daquilo, estava ficando quase óbvio o interesse dele.

— Um favor? — Haseo praticamente rosnou ao falar, indignado com a pergunta. — Meu favor vai ser não retalhar seu corpo pedaço a pedaço quando eu te matar. Mas é óbvio que é assim que você vai terminar...!

Terminou de se transformar. A espada em sua mão acompanhou a transformação, envolvendo-se na armadura, ficando maior e unindo-se ao punho de Haseo.

Quando a loba agia daquela forma Haseo se irritava muito. Ela simplesmente ignorava tudo ao seu redor, focando-se apenas em um objetivo e de forma egoísta. Era revoltante. Haseo não teve escolha senão voltar à sua forma humana, e ouvir o que o vampiro tinha a dizer.

— Feh — Irritava-se ainda mais com a forma de Antares se dirigir à Ayame. Tentava se conter, mas as palavras eram tão escorregadias que deixavam Haseo ainda mais nervoso do que já estava. Foi quando Antares usou o boneco Vodu para fazer um corte no braço de Haseo, e isso fora a gota. Assistiu um filete de sangue escorrer, e ignorou qualquer outra palavra do vampiro. — Desgraçado, porque eu iria te ouvir?!

Sem pensar mais, Haseo firmou a espada em punhos e foi pra cima do vampiro. Na investida, subiu sobre a mesa e atacou Antares com a espada, nisso tentou chutar a caixa com os bonecos na direção de Ayame. Não pensara no que faria a seguir, mas logicamente tentaria continuar atacando.