Aposentos Reais

Caminhou até seu quarto, sem pressa, mas a passos firmes. Ainda estava encharcado e a água escorria, molhando um pouco o chão por onde passava. Entrou em seu quarto e fechou a porta com certa força, e a trancou. Suspirou cansado, tirou seu chapéu molhado e caminhou até o banheiro. Ali se despiu, deixando suas roupas num canto, e foi até a banheira, que possuía uma magia que mantinha a água sempre morna. O príncipe tomou um banho sem pressa, maior parte do tempo apenas descansando, apoiando os braços nas laterais da banheira. Logo mais teria que resolver mais problemas dentro e fora do castelo, então aproveitava aquele momento tranquilo.

Assim que terminou o banho, se enxugou e vestiu-se com uma roupa qualquer. Calças e uma blusa de mangas longas quebravam o galho, enquanto deixava suas roupas casuais para que um empregado as levasse para serem lavadas e secas. Depois disso, Kite deitou em sua cama, cansado, e não levou muito tempo para adormecer.

Acordou cedo, já que um de seus empregados veio atormentá-lo com os papéis do dia. Batia à porta freneticamente, desesperado, enquanto o príncipe se levantava sem pressa na cama, e então foi até a porta, a abrindo.

— Vossa majestade... — Começou o empregado, trazia alguns papéis e as roupas limpas do príncipe. — Hoje vai ter que avaliar os novos soldados e o treinamento. Ordens do rei.

Kite não respondeu, afinal sabia que iria ter que fazer isso, era uma tarefa um pouco irritante, mas era de certa forma seu dever. Apenas tirou os papéis e as roupas das mãos do empregado, e fechou a porta. O príncipe se trocou, clocando suas roupas de costume, e vestiu o chapéu. Deixou os papeis num canto qualquer, era apenas uma burocracia chata, irritava-se com isso. Saiu do seu quarto em seguida.

O príncipe caminhou até seu quarto. Não tinha pressa, abriu a porta e entrou. Esperava Flora entrar, mas não iria fechar a porta para ela, já era demais. O quarto era luxuoso, mas longe de ser cheio de frescuras reais. No máximo, os móveis eram de materiais caros, mas sem muitos enfeites além das espadas em uma das paredes.

Kite caminhou até perto da cama e colocou seu chapéu sobre o criado-mudo. Fitou Flora e cruzou os braços.

— Fale, mulher.

Manteve os braços cruzados enquanto esperava Flora falar. Estranhamente ela cutucava algumas sombras do quarto, ato esquisito que Kite parecia compreender, mas preferiu não comentar. Finalmente a garota começou a falar, nisso o rapaz arqueou a sobrancelha. Ela precisava de sua... ajuda? Uma garota como aquela parecia teimosa e egoísta o suficiente para nunca precisar do apoio de ninguém, e agora pedia para que o príncipe de Lodoss o ajudasse. Ele era conhecido por sua arrogância, um príncipe calado, bruto, que qualquer cidadão temia em falar com ou sobre ele. No entanto valia a pena tentar.

Ela queria encontrar uma pessoa, sua irmã, e Kite nem imaginava o porquê. Também não lhe interessava, não era assunto dele, mas ali estava a mulher mais bruta que conheceu, lhe pedindo ajuda. Foi então que ela disse fazer o que ele quisesse para que a ajudasse, e ele voltou à sua expressão séria e fechada.

— Não é fácil encontrar uma pessoa assim na ilha, é bastante extensa, ela pode estar em qualquer canto. Tem idéia de quanto vai te custar uma busca que mobilize soldados? Imagino que terá de trabalhar a vida toda para pagar, a não ser que tenha uma melhor forma de pagamento. — Não parecia estar dando o braço a torcer, a menos que Flora confirmasse que daria algo em troca do serviço. Se fosse pensar bem, o rapaz tinha razão; para encontrar alguém com urgência, seria necessário no mínimo anúncios na cidade, o que iria parecer que a garota era uma criminosa. No melhor dos casos soldados e cavaleiros seriam enviados por toda a ilha à procura desta mulher, e isso implica em outros homens tomando lugar dos que saíram ao invés de treinarem ou ficarem em seus postos.

Via a garota desconcertada, algo que Kite achou que custaria muito para ver vindo dela. Flora demorou para responder, pensativa, deveria achar humilhante a situação, e de fato era. Kite conseguiu, mesmo que contra sua vontade, fazer a mulher mais orgulhosa que já vira lhe pedir ajuda e se rebaixar até onde quisesse.

Ouviu o que ela disse, e não se surpreendeu muito com a frase final. Uma mulher daquelas seria no mínimo isso, mas preferia não comentar. Cada um com seus problemas, era o que pensava sempre. Além disso ela não dava opções do que podia fazer para pagar, que serviços podiam fazer, e Kite não estava interessado em pensar nisso, já tinha assuntos reais suficientes para resolver.

— Se não tem nada a oferecer, está perdendo seu tempo. — Caminhou até ela, mas passou reto, abrindo um pouco a porta. — Não estou interessado em te ajudar gratuitamente, você é apenas minha amazona, me obedece.

— Mulher idiota — Falou quando ela saiu, e então fechou a porta. Aquilo não era problema dele nem dos soldados, então para que perder seu tempo? Não iria ganhar nada em troca, e a mulher nem era uma criminosa, se ao menos fosse teria uma desculpa para mobilizar uma tropa.

Kite caminhou até sua cama onde se deitou, de barriga pra cima e com as mãos na nuca. Não se arrependia, não se importava. Porém se lembrou de quando a garota entrou no quarto: ela estava preocupada com as sombras do lugar, e parecia hesitante em dizer alguma coisa, mas omitiu. Ficou pensando nesses detalhes, que talvez tivesse um fundo de utilidade em encontrar essa garota que parecia ser mais importante do que parece... Mas preferiu não pensar no assunto, virou-se e fechou os olhos para dormir.

Acordou apó slongas horas. Fazia tempo que não dormia bastante, no máximo dava cochilos, e isso o deixou descansado. Se levantou, soltando um longo bocejo. Coçou a cabeça tentanto lembrar do que aconteceu no dia anterior, os papéis que assiniu, as ordens que enviou, se estava tudo em ordem e não faltava mais nada para terminar hoje. Lembrou-se de Flora, aquela garota estranha que viera, foi então que veio à cabeça. Organizando todos os fatos que viu até agora, o que conhecia dela e o que ela fez no quarto, não era de se estranhar que a teoria que kite tinha na cabeça estivesse correta. Ela estava recebendo ordens de alguém ou algo, isso envolve a irmã dela, ela própria e mais alguém fora do mapa.

Não queria se envolver, mas tinha a leve impressão de que esse alguém fosse a princesa, detalhe que o deixou irado. Então tentaria fazer algo, mas em primeiro teria de encontrar aquela amazona al-humorada e tirar dela o que sabe a qualquer custo.

Kite pegou seu chapéu sobre o criado mudo e o vestiu, saindo do quarto em seguida.