Cemitério

A criatura desceu de boca aberta, e se tivéssemos corrido menos do que naquele momento, com certeza teríamos sido pegos. A boca não me acerta por pouco... Havia um cheiro azedo naquela movimentação, era o veneno que emanava dali. Edward demonstrou preocupação, e nos informou que a criatura preferia o escuro.

Nem foi necessário Chris me perguntar se eu tinha, meu golpe era perfeito... E era tudo de acordo com a minha estratégia.

-Raio de Luz! - bradei eu, mirando o disparo entre os olhos da criatura, para que o efeito fosse maior e conforme eu havia esperado. Se acertasse, tinha chances de tirá-la de combate, ou assim pensei eu; E não usei o cajado, pois o túnel era apertado e não me daria espaço pra manobrar a arma, que era de médio e longo alcance.

Espalmei a mão direita e um globo de luz se formou, girando e brilhando, e quando formou a estrutura de cone, ou seja, partindo de um ponto de minha mão e alargando até chegar na criatura, eu pensei ter ouvido um berro de terror, tamanha minha empolgação.

E realmente eu escutara a criatura urrar, acertou o olho direito dela, o que nos deu tempo o suficiente para fugirmos mais rápido. Ela balançava a cabeça e foi pra trás como se houvesse visto algo que a paralisasse de medo. Edward nos indicou a descer mais rápido. Mas era claro que quanto mais o tempo passasse, mais ele ficava mal... Ele cambaleava bastante. Algum tempo depois, que eu não pude quantificar, chegamos no patamar mais baixo daquela descida e passamos correndo pela porta, fechando-a em seguida.

Chris estava bastante aliviada. Coalhados pelo chão que acabamos de ver, a decoração normal do fundo de uma masmorra, teias de aranha por todos os lados, poucas tochas pelo caminho e alguns cadáveres... Talvez alguns que quiseram entrar ali e obviamente não conseguiram. A menina tolamente perguntou para onde iríamos naquele momento, e sem objetar mais nada, se ofereceu como muleta para ele.

Em seguida, Edward disse que teriam que entrar no quinto túnel da esquerda e pegar o primeiro caminho da direita, tive o cuidado de memorizar o que tínhamos de fazer enquanto Edward estivesse consciente, porque se ele a perdesse, eu teria que assumir a liderança de nossa empreitada... E, de acordo com ele, havia um sarcófago grande... Então seria mais fácil de localizar.

Os túneis abaixo eram de tamanho padrão, bastante largos... E naquela instância não convinha gastar energia. Peguei uma tocha e, ao lado de Chris e de Edward, comecei a caminhada para os fundos daquele lugar, atento a qualquer movimentação suspeita. Era melhor do que ser surpreendido.

Muito tempo havia se passado desde que o elfo havia estado no cemitério e aceitado a missão de Kjeen. Mas enfim o bravo guerreiro tinha concluído sua missão e estava de volta para o local marcado de se re-encontrar.

— Vamos Kjeen. Aparece, sei que está ai.

Certamente o elfo já não era mais o mesmo de antes, que da última vez nem ao menos havia conseguido ver o vampiro se aproximar dele. E agora conseguia sentir a presença de Kjeen.

" Será que estou fazendo o certo, entregando essa pedra, mesmo com os poderes selados? "

Um vento frio arrastava a poeira daquele lugar esquecido. A muito tempo os mortos já não eram mais enterrados, apenas jogados ao relento. Túmulos e mausoléus, mesmo havendo centenas, não pareciam ser suficientes. A terra era seca, acinzentada, nenhum tipo de planta nascia por mais que houvesse corpos apodrecendo em todo canto. Vez ou outra Tenkai avistava um hellhound se alimentando de um cadáver ou procurando ossos que ainda pudessem ser roídos.

Ao chamar pelo vampiro, Tenkai apenas continuou ouvindo o sussurro do vento. Olhou em volta, apenas os túmulos e estátuas pareciam assistir ao seu chamado. Até que uma das estátuas se moveu.

– Ah, achei que você não apareceria mais! – O ser aos poucos se movia. Era um licantropo de pelagem mesclada entre cinza e negro carvão, não muito corpulento, mas sua musculatura era definida. Ele se levantou, ficando sobre as duas patas, encarando o elfo. Riu – Aquele vampiro cretino não está mais atendendo, se é que me entende... Então ficarei com a pedra.

Spoiler:

Ele estendeu sua mão com garras, seus olhos amarelos encarando Tenkai como se fosse uma presa fácil. Era difícil saber se o que aquele licantropo estava falando era verdade, e o elfo deveria pensar rápido.

Tenkai esperava por algum sinal de Kjeen, pois havia dito ao elfo que quando Tenkai tivesse terminado a missão, estaria aqui quando o guerreiro chega-se. Entretanto, a figura na qual Tenkai se deparou foi outra.

Era uma criatura sinistra e alta, muita pelagem e garras que aparentavam rasgar até mesmo o aço. Porém Tenkai não se intimidou com aquela criatura e suas prezas ferozes.

— Não está mais atendendo, hu?

Tenkai não sabia da rivalidade de vampiros e Licantropos, mas parecia entender o que o Licantropo dizia a respeito de Kjeen. Mas com isso a missão do elfo ia para o espaço e uma nova situação intrigadora surgia, a criatura que parecia ter dado cabo do vampiro, exigia a pedra.

— Lamento. Meus assuntos são com Kjeen — O elfo pensou e percebeu — Por que acha que eu tenho uma pedra comigo? E se eu tivesse tal pedra pertencente ao vampiro, por que eu lhe entregaria. Não o conheço e não teria vantagem nenhuma nisso.

Tenkai agora estava testando o licantropo, poderia ser ele um aliado ou mais um inimigo?

O licantropo deu uma risada rouca e sinistra que durou alguns segundos.

– Acha que aquele morcego lhe daria algo em troca pela pedra? Você teria sido morto no instante em que tivesse pisado aqui. Vampiros são criaturas ardilosas, cínicas, que vão usar você até que não sobre nada. Jamais deixam você sem saída, o brigam a seguir suas ordens. – Ele rosnou por alguns instantes, avaliando o elfo – Era para você estar cercado de vampiros neste momento, e sua vida passaria a ser um tormento. Serviria a Kjeen contra sua vontade.

Ele subiu em um dos túmulos, ficando agachado ali, e mesmo assim era muito mais alto que Tenkai.

– Não pense que somos selvagens como os Filhos da Lua. Não não... somos racionais, e sabemos que a melhor forma de conseguir algo de alguém, é oferecendo uma real recompensa em troca. Você passou por bons bocados para conseguir esta pedra, por acaso sabe do que se trata? Ela potencializa o poder dos vampiros, fazendo-os ter sangue quente! Os desgraçados podem até mesmo se transformar em criaturas aladas piores do que qualquer coisa que você já viu. Lhe dou uma dica, caro elfo: não confie em ninguém de Takaras, principalmente vampiros.

O elfo agora se mantinha calado, a criatura parecia ser amigável e contava certas verdades.

— Sim, você está certo sobre aquele homem Kjeen, ele não era confiável, pois quando cheguei em Ruff, descobri que o colar que era o símbolo dessa vampiro, era uma maldição que só acabaria quando eu completação a missão — O elfo retirou um colar do pescoço, deixando apenas o colar do concelho na qual não se podia retirar do pescoço, e imediatamente jogou e deu-lhe um pisão forte que quebrou o símbolo — Mas minha missão já foi completada e essa maldição não está mais sobre efeito de mim.

Agora o Licantropo parecia bem relaxado e se sentava. Tenkai ficava observando suas atitudes e palavras.

— Você parece ser uma criatura sensata e que conhece bem os vampiros, e sobre essa pedra, pois bem, também sei sobre essa pedra e descobri da pior maneira possível, porém essa pedra já não tem mais os poderes que tinha, ela foi selada por um mago e seus poderes já não existem mais ou foram reduzidos absurdamente. Kjeen só receberia uma pedra comum, e bem, se ele tenta-se me matar, acho que ele não conseguiria mais. Se fosse quando nós conhecemos, poderia me matar, mas agora não mais, tanto que eu pretendia dar fim a vida dele.

O elfo olhou para criatura novamente e depois pegou no pingente do colar do concelho e deu uma olhada sem o licantropo ver o que estava na mão de Tenkai. Logo em seguida voltou a falar.

— Quando sai da Estalagem de Ruff, foi me dado um título do concelho, e esse título é de Representante das Raças ao Concelho. Eu não sei bem o que esse título faz, mas acredito que deva ser um equilíbrio entre todas as raças. Eu poderia lhe dar a pedra sem maiores problemas, mas acredito que eu deva ficar com ela, para ninguém ter posse sobre ela e tentar usar seus poderes selados. Como você me disse, és uma criatura racional, então deve perceber o peso que carrego comigo agora. O que me diz? E não se preocupe, não confio em ninguém de Takaras, não sou desse continente.

— Elfo, as únicas pessoas que poderiam ter essa pedra sem tornar-se um fardo são os reis de Takaras e Hilydrus. E sinceramente, não desejo que caia nas mãos de nenhum dos dois. Se você continuar com este objeto, será caçado como uma presa sangrando. Diz ser representante das raças? Pois agora conheça os Filhos da Floresta: Lycans puros, justos, que apesar de algumas tribos viverem em Takaras, jamais nos rendemos ao mal que corrói estas terras.

Ele então andou até Bluesday, parando à sua frente. Mesmo curvado, o lycantropo era ainda meio metro maior, e seus olhos amarelos apesar de ameaçadores pareciam sábios. Ele apenas estendeu a mão para o elfo, esperando a pedra.

— Assim sendo, você deverá partir. As criaturas daqui devem esquecer o seu rosto por enquanto. Muitas sombras te seguem, caro elfo, e nem todas estão mortas.

O elfo ficou pensativo. Não sabia ao certo o que fazer, mas se decidiu em acreditar naquela criatura.

— Lycans, hu? Bom, você realmente parece confiável. Irei lhe entregar essa pedra maldita. Mas sob uma condição. Se algo acontecer com ela e a mesma for roubada de vocês, me procurem. Iremos juntos recuperar ela — O elfo deu uma olhada novamente no lycan — Mas parece que não será fácil alguém toma-la de vocês lycans.

O elfo retirava enfim a tal pedra de um bolso escondido de suas vestimenta, e entregava para o lycan, que pode percebe o quanto o elfo era preocupado em manter ela em sigilo, afinal ele sabia os problemas que ela poderia causar.

— Vamos, diga seu nome. Seria estranho eu lhe entregar algo tão valioso saem ao menos saber o seu nome. O meu é Tenkai, vindo de terras distantes de Lodoss.

Tenkai nesse momento, após ter entregue a pedra, lembrou-se de como as pessoas se relacionavam ao se conhecerem ou se verem, então estendeu a mão para o lycan para aperta-la, como assim faziam a civilização que ele pode conhecer, pois o elfo não podia conhecer muito sobre Lodoss e e todos que viviam nele, mas ele tinha facilidade em se adaptar aos costumes das localidades, assim como tinha facilidade de se adaptar em batalhas.

— Bem, você está certo sobre sombras me seguirem, parece que sou um arauto da desgraça. Entretanto, eu tenho assuntos a resolver no exercito de Takaras, porém tenho uma ambição a realizar. E por esse motivo estarei partindo de Takaras por enquanto — O elfo retira uma mascará de um outro bolso, ela tinha a forma de um demônio e a colocou de imediato — Assim terei mais facilidade de transitar por Takaras, até sair dela, essa mascará emite alguma aura estranha, apagando sua verdadeira identidade, e dando a impressão de ser um demônio. É algo estranho que adquiri aonde eu vivia, que me faz lembrar de minha ambição, ao encontrar a mascará, li sobre guerreiros que estão frente a frente de sua preza, porém não eram vistos, pois usavam alguma armadura mágica feita por seres como eu, embora na época eu não fazia ideia de que eu era um elfo.

Tenkai parecia um elfo muito esquisito, que não conhecia muito sobre si próprio e que estava aprendendo agora.

— Em ruff ouvi falar sobre uma floresta que ah seres que vivem lá que podem me ajudar. Estou partindo agora. Cuide bem da pedra.

O elfo então se virava para o lado na qual havia chegado e voltava para a saída de Takaras, e seguir pela estrada até seu próximo destino.

O lycan pegou a pedra, sua enorme mão acomodou-a sem problemas, e seus dedos com garras logo se fecharam sobre o objeto, ocultando-o totalmente.

— Me chamo Inverno, caro elfo. Posso ser frio, mas mortal e cortante e se duvidar, te queimarei. — Levou a pedra a um de seus bolsos e se distanciou, saltando sobre um grande mausoléu com grande facilidade devido a seu tamanho e pernas poderosas. Dali de cima, ainda falou com Tenkai. — Que sua jornada seja calma, mas que não perca seu rumo diante disso.

E com um bufar, virou-se e sumiu por entre os mausoléus e lápides do lugar.