Continente Shane

— Toma! — Gritou Gin quando seu tiro encontrou o alvo. No entanto, não tinha contado com a aproximação da cobra, que logo pegou sua perna.

Por intermédio do destino sua perna não sofreu uma mordida direta, porém a dor que se fazia quando as presas rasgavam sua pele era intensa. Sabia que tinha q escapar dali na hora.

— Maldita minhoca ..! — Murmurou, tentando controlar a dor que sentia.

Em um dos solavancos violentos que a cobra fazia, Gin se segurou no que podia: no dente, no nariz ou em alguma imperfeição em suas escamas com seu braço esquerdo. Com o braço direito ou, mais precisamente com o dedo direito, atiraria outro LEIGUN no olho que restara da maldita cobra. Com isso esperava que a mesma o soltasse devido à dor provocada pelo tiro. Atiraria o Leigun como o anterior, na mesma medida.

Muitas vezes, até conseguirmos sair daqui.

Ree fechou os olhos, enquanto um calafrio percorria sua espinha. De repente se sentia meio claustrofóbica, depois da situação.

Então vamos logo.

Meio incerta, Ree prosseguiu. A caminhada, apesar do ambiente ser fresco, se tornou meio cansativa, graças á total falta de preparo físico dela. Mas ela não tinha tempo de fazer qualquer reclamação, com um perigo tão ao lado, que fazia questão de lembrar que estava por perto, a cada tremor, a cada pequeno pedaço de terra desprendido.

Argh, isso está me dando úlceras já.

Enxergar a saída foi como uma epifania para a garota. Não era de ser medrosa, mas quando ficava face a face de uma criatura que nem ela conseguia controlar, bom, era preocupante.

Finalmente!

Clock Bunny disparou, voltando até mesmo a rir, depois de enxergar a saída. Ree vinha logo atrás, com passos apressados. Ela não percebeu Roswell se afastando. Ela não percebeu a diferença no tremor.

Corram. — Falou num tom forte e alto. O tremor aumentava cada vez mais.

Ree virou para trás. Além de Roswell, mais nada. Ela deu um sorriso nervoso.

Do que você está falando? Já estamos na sai....

E ela pode ver, finalmente. A cor do rosto sumiu, a boca secou, a voz, sumiu. Logo atrás de Roswell, o vulto gigante se apoximava com tanta velocidade, que não dava tempo de Ree raciocinar, porque o verme já estava ali.

— Eu disse CORRAM! — Pela primeira vez Roswell gritara de verdade. O animal vinha muito rápido, e não havia nenhum outro caminho possível que ele pudesse pegar. Ree e CB não tinham outra escolha a não ser correrem de fato

Ree virou-se por reflexo, enquanto suas pernas a tiravam dali. Era tudo rápido demais. O verme iria alcança-los em pouco tempo, e Roswell...

Ela sentiu perder o fôlego por lembrar que ele ficara para trás, e virou a cabeça, exatamente no momento em que o rapaz agarrava as presas do verme.

ROSWELL!

O impacto a fez acelerar o passo, colocando as mãos sobre a cabeça, para proteger-se das pedras que agora caiam, enquanto soltou um grito.

Ela não tinha coragem de olhar para trás. Ela podia ouvir o som do verme se remexer, do túnel protestar contra os movimentos, e da velocidade diminuindo. Mas ela não tinha coragem de descobrir se o motivo era porque Roswell a segurava, ou ele agora era parte de sua refeição. Ela só continuava a correr, trêmula.

Clock Bunny era muito mais ágil que Ree, e quando percebeu estar muito a frente de sua mestre, não evitou parar para esperá-la. Se o verme chegasse muito perto, seria sua função salvá-la. Ainda assim, como Ree, C.B protestou quando o verme e Roswell colidiram, soltando um rosnado. Ele estava mais confuso que nunca, com medo demais para pensar, brigando contra seus instintos e seus deveres como servo.

Nym se segura como pode em cima do animal escamoso enquanto ele avançava em cima de seu companheiro. A Naja consegue atingir Gin e agora estava com ele preso em seus dentes.

- Tenhu que tirar esse infeliz dalí. - Pensava Nym, mas suas esperanças de liberar Gin ia ficando menores a cada solavanco que o ser escamoso promovia enquanto balançava de uma lado para o outro.

Preparando-se para avançar mais um pouco, Nym se agaixou em cima do animal e partiu em direção ao seu focinho. Sua intensão era chegar o mais proximo possível da boca para poder liberar Gin de sua posição agoniante. Caso se desequilibrasse iria enfincar a espada por entre as escamas do animal para conseguir estabilidade.

Apesar de tudo ocorrer em não mais do que minutos, foi uma situação desesperadora. C.B corria a todo vapor, com Ree atrás. Ela nem pode reagir quando percebeu C.B desaparecendo na ribanceira.

Aliás, descer pela ribanceira foi uma experiência que Ree amaldiçoaria por um bom tempo. Além da óbvia tontura, ralou os braços e pernas em muitos lugares, tendo a dor intensificada pela areia. Mas apesar de tudo aquilo, ao menos teve uma pontada de sorte em ser amortecida.

Ree tentou se levantar, mas logo depois se jogou no chão novamente, com o estrondo que o verme causou. Ela assistiu o gigante passar voando por ela, e aterrisar a metros dali. Mesmo na areia, ela pode sentir a vibração do solo. Tapava as orelhas com toda a força, em razão dos guinchos irritantes da minhoca.

ARGH, CALA A BOCA!

Ree tentou se levantar, agora mais trêmula do que nunca. Abraçava C.B com força, e o próprio coelho tremia nos braços de sua mestra. Eles não sabiam o que fazer. Ambos desnorteados e abalados, assistiam o verme de pedra desidratar.

C.B foi o primeiro a reagir, soltando-se de Ree e indo inspecionar o monstro. Após muito pensar, ele finalmente se aproximou, começando sua análise. Por sorte, eles estavam agora a salvo.

Ree só reagiu muito depois, agora a procura de Roswell. A ansiedade lhe apertava o coração, e ela não sabia bem porque. Mas tudo sumiu quando ela percebeu um vulto se mexer. Parou de respirar, mas por alívio. Roswell estava bem.

Saiu correndo em direção a ele, seguida por Clock Bunny. Ela demorou um pouco, escorregando na areia quente. Chegou ofegante até o rapaz, mas aquilo não a refreou em agarrar Roswell, como se para se certificar que ele estava vivo.

- Ah, como você pode fazer uma coisas dessas, você podia ter morrido ou acontecido algo pior! E se ele tivesse te pegado mesmo? e se ...

Ela soltou o aperto mas continuava a falar. Os olhos estavam úmidos, e as mãos tremiam. Na situação, ela nem se lembrava da maldição que assolava o rapaz, o impedindo de morrer. Ela analisava as feridas e tentava arranjar um jeito de limpá-las, em especial o pescoço. Nem ela sabia o que fazer direito.

Nym estava quase chegando ao focinho do animal, tentava se deslocar com cautela porém o mais rápido que conseguia. Foi quando Gin se aproveitando do balanço do Verme supercrescido acha ângulo para acertar outro tiro em sua cabeça.

Ao ver o movimento de seu companheiro Nym arregala os olhos em uma mistura de atenção e pânico. - Ah, não! - Sussurra enquanto sua expressão se torna enfurecida novamente.

Seguindo o que havia planejado, Nym enfinca a espada no focinho do animal enquanto o mesmo era atingido pelo tiro de Gin. A Naja começa a sacudir de dor e a levantar seu corpo. Mesmo segurando com toda sua força Nym não foi capaz de se manter em cima do animal e é jogado para longe, mas consegue levar sua espada deixando uma profunda perfuração.

Nym cai na areia em um baque surdo, mas logo consegue se estruturar novamente e olhar para seu inimigo que agora começava a cair lentamento ao solo. vendo que não estava em perigo pela queda do animal Nym somente assiste a criatura bater no solo e provocar um grande estrondo. Logo após, terminando de se levantar, começou a bater a areia de suas vestes e a andar na direção de seus companheiros que agora se levantavam e analizavam os machucados.

Nym somente escutou a ultima frase de Jim, mas preferiu não comentar nada. somente ficou analizando o ferimento de Gin com certo desprezo. Ainda não conseguia entender como os humanos podiam ser tão fortes e ao mesmo tempo tão frágeis.

Ree não se importava em estar suja de sangue, depois de tudo. O que lhe deixava inquieta eram os sangramentos que não paravam. Ela se arrependia por não conhecer no momento nenhuma magia de cura, ou qualquer outra coisa que pudesse ajudar Roswell como ele já ajudara ela.

— Se tivéssemos corrido ele nos alcancaria. — Explicou, segurando a garota pelos ombros, mantendo-a um pouco distante. — Fiz o que precisava fazer. E lembre-se de que não posso morrer, ao menos não ainda.

Isso não signfica que você deve ir por aí se machucando desse jeito...

Ree pode então sentir uma estranha sensação, conhecida. A dor sumia, mas sua inquietação só aumentou.

- ... Nem continuar gastando energia depois de tudo isso. - Clock bunny já tinha visto aquela técnica antes, e num gesto de preocupação, cutucou e rosnou baixinho para o rapaz, e começou a investigar ele, como se esperasse ver surgir novos machucados.

Não lhe importava se ele era imortal ou não, ela continuava odiando o fato de vê-lo ferido. Enquanto Roswell continuava a falar, a menina rasgou um bom pedaço do vestido. Jogou água do cantil para limpar a ferida do pescoço e enfaixá-la. Ela não queria saber de imortalidade ou qualquer outra coisa. Para ela, aquelas feridas eram reais demais, e os efeitos também poderiam. Teimosa, não deu o braço a torcer.

- Eu não o culpo, Clock Bunny é um ótimo farejador de qualquer maneira. - Agora ela parecia um pouco mais calma. Fechou a cara com o último comentário de Roswell. Bateu o pé e cruzou os braços - Droga, mas é claro que sim. Não sou de voltar com o rabo entre as pernas. Quem deveria voltar seria você.

Num momento de descuido emocional, os olhos ficaram levemente pratas, junto com algumas mechas do cabelo, mas logo voltando ao normal. Até aquele momento, ela não tinha se importado com a menina ou os dois raptores. Mas agora queria encontra-los, mas parar saciar sua vontade de estraçalha-los. Se ela tinha que culpar alguem, seriam os irmãos.

Clock Bunny pode sentir as vibrações de sua mestra, e num ataque de risos, compreendeu. Jogou-se no chão, rolando para a areia. Pouco tempo depois, voltou a sua tarefa de farejador, dessa vez mais motivado.

— Aô cobrinha nojenta. — Disse, enquanto via o agonizante fim de seu inimigo se estrebuchando ao solo.

Pegou o cantil oferecido por Jim, lavando, assim, seu ferimento. Em seguida, abriu sua mochila pegando um pouco de gaze e colocando-a por cima de seu ferimento. Feito isso, rasgou boa parte de sua calça, amarrando-a por sobre o ferimento. Pegou, depois, sua calça de treino da mochila, vestindo-na por cima do curativo.

— Como sempre Nym e seus comentários construtivos. — Disse Gin quando seu companheiro aproximou-se. Aproveittou e apoiou-se neste para levantar.

— Não parece-me que o ferimento está envenenado. De qualquer modo, devemos continuar em frente à procura de nossa caça. — Olhou em volta. — Uhh..por onde mesmo?

Ela não teria reparado no enorme castelo a sua frente se não fosse Roswell. Piscando surpresa, ela demorou algum tempo para assimilar a imagem ao cenário. Cruzou os braços, com um leve sorriso cínico.

Um castelo? Ora ora, isso vai ficar interessante.

Não podia negar, a visão era majestosa, diante de toda aquela areia. Uma miragem? Talvez. Mas ela estava bem feliz com essa.

Ree começou a caminhar ao lado de Roswell. Com as mãos, tapava o Sol que ainda insistia incomodar seus olhos. Clock Bunny tentava andar nas sombras que se formava atrás dos dois, tentando escapar do Sol, mas ainda assim, era irritante. Mas ainda assim, chegaram relativamente rápido.

— Bom... preferem entrar pela porta da frente? — Perguntou tranquilamente. Lá estava uma ótima pergunta. Haviam seguido dois sequestradores, que pegavam caminhos considerados mortais para a maioria das pessoas, e chegaram a um castelo isolado do resto do mundo.

Ela continuava a acompanhar seus passos, respondendo enquanto encarava o castelo com um sorriso cínico.

- Não é como se tivessemos muitas escolhas, certo? - Ree pegou no colo C.B, o segurando de uma maneira que escondesse certos aspectos dele, como o sangue. Assim, ele só parecia um bixo de pelucia bem mal-trapilho. - Melhor bancar os inocentes perdidos do que os invasores xeretas.

Claro que ela adoraria entrar explodindo tudo, fazendo quantas vítimas fosse possível. Mas estavam em desvantagem. Ela precisa resgatar uma pessoas, o que era algo novo para Ree. Normalmente ela só invadia os lugares para se vingar e depis ia embora. Dessa vez teria que esperar um pouco antes de sua vingancinha pessoal.

- Mas ainda assim, é bem estranho pararmos num castelo, não?

Logo que chegou próximo a seus companheiros o chão sob seus pés cedeu, como se uma alavanca tivesse sido acionada e um alçapão se abriu. Nym caiu completamente desequilibrado e rodopiou no ar por alguns segundos aterrissando de cabeça ao solo. Logo após ainda tentou levantar a cabeça, pois seu corpo caiu de costas para o chão depois da forte pancada, mas já estava atordoado e só conseguiu ver vultos se aproximando e depois desmaiou.

Ao abrir novamente os olhos Nym estava de bruços e não se moveu ao acordar. Estava preso em uma espécie de jaula, pois podia ver as barras a sua frente e uma larga parede de rochas com tochas cercavam o restante do ambiente. Suas narinas logo sentiram o ar seco e áspero passando, mas isso não chegava a incomodar muito o Demônio.

Levantou-se por fim vendo que estava seguro e pode constatar os demais habitantes daquele calabouço gigante. Nisso acalmou-se e sua cabeça começava a parar de latejar quando um cheiro fraco de ácido chega ao seu olfato. Vinha da direção de Jim que estava jogado ao canto da cela. Nym se lembra de Gin neste momento e o procura pela cela constatando que este estava começando a se levantar logo atrás de Nym.
Foi em direção a Jim e retirou sua mão da barriga. Um ferimento grave é revelado, possuía sangue coagulado e algum veneno que corroia a ferida aos poucos. O humano não teria muito tempo de vida. – Hunf! – Exclamou ao constatar que Jim não tinha forças para acordar.

Quando se levantou para olhar Gin novamente e avisar da situação de Jim um outro humano que estava na cela logo a frente comenta com Nym sobre a situação. – Sabe onde estamos? – Disse o pequeno Demônio com sua voz ríspida e cheia de ódio. Nym não estava gostando de sua situação atual. - Tudo por causa de uma humana infeliz que não sabe se defender e de um velho... – Pensava Nym enquanto a imagem do velho volta novamente a sua memória. Aqueles olhos.
Nym ficou parado olhando para o humano a sua frente, sem prestar realmente atenção no que ele dizia.

Como se fosse a resposta de sua pergunta a areia afastou-se, abrindo um gigantesco buraco por baixo de seus pés. Gin caiu de uma altura relevante. Quando finalmente atingiu o solo bateu a cabeça, desmaiando tarde o suficiente para ver algumas luzes.

Acordou em uma cela velha e fedida. Sentou-se, passando a mão na cabeça. Viu Nym se levantando e indo em direção a Jim. Apesar de não ser Youkai, pôde sentir, de leve, o cheiro do ferimento de seu companheiro. Fatal, com certeza.

Antes de se levantar olhou mais em volta. Um grupo de celas com pessoas dentro era visível do ponto onde estava sentado. Percebia que estavam ali a tempos, fazendo a esparança de Gin diminuir um pouco.

Levantou-se. Deixou a conversa com Nym e foi direto em Jim. Botou a mão em sua testa, constantando a febre. Em seguida segurou seu ombro, sacudindo-o um pouco para fazê-lo acordar.

— Acorda rapaz, é melhor. — Disse numa voz grave. Não sentia-se no clima de brincadeiras.

Nym volta de seu transe momentâneo e presta atenção nas palavras do humano. – Tudo se trata de um torneio. Somos como gladiadores. – Pensava o demônio enquanto o rapaz continuava a tagarelar.

Nym não deixou de fitar o velho que pigarreava enquanto o jovem falava sobre o castelo. Olhou o velho de cima a baixo e estreitou os olhos quando o mesmo também lhe fitou, mas em seguida voltou sua atenção para o humano que continuava a falar. Quando o ultimo terminou Nym simplesmente se virou para encarar Jim que parecia ter acordado, ignorando completamente a tentativa de amizade que o humano lhe proporcionou.

- Se isso se trata de um torneio pela sobrevivência... Quero que morra o mais rápido possível. – Disse em seu tom frio, virando o rosto para olhar Raven com o canto dos olhos ainda de costas para o mesmo.

Mesmo prestando atenção na conversa com o garoto da cela à frente Nym não pode deixar de ouvir o pedido de Jim. Nym caminhou com tranqüilidade até Jim ficando entre Gin e o marinheiro ferido. Com suas costumeiras mãos nos bolsos ficou encarando Jim por alguns segundos e em seguida estreitou os olhos e ergueu a cabeça, olhando para ele de cima com certa arrogância. – Repita o seu pedido pra mim... – Disse em tom baixo e ameaçador para Jim.

Estava farto daquilo. Não queria mais saber de humanas em perigo nem de nada parecido. Não iria ficar enjaulado com um bando de vermes apodrecendo em sua volta. Iria seguir as regras de uma vez e acabar logo com aquela situação.

Apesar da situação, se interessou pela explicação da pessoa cujo nome não lhe foi gravado na mente.

— Torneio, é? — Deu um sorriso rápido. — Posso viver com isso rapaziada, sem problemas. Lógico que prefiro sair daqui antes disso.

Olhou novamente para Jim, não sabendo o que fazer. Nym ofereceu sua saída menos empolgante que, nas circunstâncias, não parecia tão desinformal. Sentou-se ao lado de Jim, esperando a resposta desse. Sua raiva pelos irmãos aumentava cada vez mais.

Ree levantou a sombrancelha com a verborréia daquele homem. Roswell se dava ao trabalho de responder as perguntas de modo vago, mas suficiente para disfarçar. Ree por outro lado apenas fazia pose. Observava com interesse como aquele castelo era feito. Magia? Analisava tudo, prestando apenas metade de atenção ao que o rapaz falava.

Sr. e a Sra. Wyver? Hum... Teremos um problema se eles realmente aparecerem... E...torneio??

Pensando nestes contratempos, Ree deixou de olhar o interior e notou as pernas do homem.

Ugh, dragão? Problemas...

Ela não teve nem tempo de dirigir qualquer palavra antes de Desmond se retirar. Coçou a cabeça, e foi até a porta para fechá-la, e depois trancá-la. A última coisa que queria agora eram enxeridos ouvindo a conversa dos dois.

- E de alguma forma, chegamos até aqui...

Se virou, para perceber que Roswell tirava o sobretudo. Disfarçando, pigarreou e começou a dar uma volta pelo quarto, corada, com o pretexto de procurar algum tipo de escuta mágica ou algo semelhante.

- Hum... Será um problema se esse casal realmente chegar até amanhã.

Ela se sentou na cama por alguns instantes, suspirando cansada.

— Pelo visto seremos os próximos expectadores de um torneio de luta. Não me parece um dos mais famosos, e nem dos mais corretos legalmente

Será que esse torneio tem algo a ver com a garota? E você viu as pernas daquele Desmond? Se outros irmão também forem meio dragões...

Ela não disse, mas o problema que aquilo seria, estava implícito. Olhou Roswell sentado, e se perguntava como ele conseguia se manter tão impassível. Vermelha, desviou o olhar, se levantando.

Você deveria tomar primeiro, para cuidar logo desses cortes...

Ela sabia que seria em vão tentar convecê-lo a ir primeiro, então, apenas lançou um olhar reprovador, e abriu o guarda-roupa. Roupas de todos os tipos e cores, prontos para serem usados.

Extravagantes...

Ree teve que caçar alguma roupa que lhe agradasse. A maioria eram cores chamativas, ou tecidos tão pesados, que cozinharia ali dentro em menos de uma hora. Por fim, escolheu um modelo simples, e foi para o banheiro, certificando-se duas vezes se estava bem trancado.

Por fim, ela se despiu e mergulhou na banheira, observando as váriaas manchas de sujeira surgirem na água. Adicionou muito sabão e voltou a ficar encolhida, enquanto deixava o corpo relaxar. Ela não podia reclamar, luxúria sempre a agradou, ainda que não possuise um centavo no bolso.

Não sabe quanto tempo ficou, mas foi o bastante para se livrar de todo sangue e areia, além de limpar Clock Bunny, que estava tão sujo quanto ela. Terminou com uma chuveirada gelada, e se enrolou nas toalhas, se concentrando na dificíl arte de secar C.B.

- Anda, fique quieto de uma vez, depois eu deixo você sair por aí.

Esperançoso, o coelho por fim deixou-se ser arrumado. Abriu a porta para que ele saisse, e voltou a trancá-la. Era sua vez de se arrumar.

C.B saiu como um raio, se jogando na cama macia. Depois, olhou em volta, e saltou em cima de Roswell, dando algumas risadas.

- Clock Bunny vai sair, sim sim, ele vai.

Mas antes, ele olhava para o rapaz, esperando o prêmio pelo seu papel como farejador.

Por fim, Ree saiu. Cabelo preso num alto rabo de cavalo e vestido preto, como sempre. A diferença é que ele não tinha mangas e era mais curto que o seu. A saia tinha um tecido rendado branco por baixo, dando fluidez á sua imagem. Nos cotovelos, duas mangas brancas separadas, que se abriam como asas. Não usava as meias, por não precisar sair no momento, mas elas eram pretas e rendadas.

- Vá logo se limpar, ver você com esse tanto de sangue coagulado me deixa aflita.

Ela parecia ter aceitado o fato de ele não estar sentido dor, ou pelo menos, não muita. Segurava na mão o seu próprio vestido. Ela teria um bom trabalho remendando ele, e se perguntava se daria ao trabalho de fazê-lo.

C.B veio atazar Ree, que abriu a porta rapidamente para o coelho poder passear.

- Vá. Quando quiser entrar, arranhe a porta. Mas não arranje confusões. Aproveite e veja se acha a garota.

O tom de voz de Ree era cansado, mas o coelho por outro lado estava hiperativo. Num segundo já estava pelo lado de fora, andando pelos corredores, curioso.

Nym encarava Jim com certo entusiasmo, não tinha nada contra o rapaz, mas estava sedento para ver o sangue dele correr por sua espada. Esperava ainda ancioso a resposta do garoto quando um barulho vindo de fora do calabouço interrompe sua concentração na resposta que relutava a sair do rapaz confuso.

Dois rapazes entram no calabouço. Nym se vira para encarar ambos e se surpreende. O aspecto animalesco e dracônico de ambos lhe faziam inimigos muito interesantes, contudo não se apresentaram como ameaças.

— Não quero ser chato, mas já sendo: saiam da frente. —

Nym juntou com o que Raven tinha dito a pouco, iriam fazer experiências com Jim. Permanecendo em seu lugar e levantando a cabeça para encarar o rapaz de cabelos negros e muito mais alto que Nym. Ficou parado até que este se aproxima-se bem. - Me tire daqui... - Disse em tom baixo e ameaçador quando o rapaz olhou em seus olhos negros e frios que lhe olhavam compenetrados. - Antes que eu resolva sair sozinho... - Completou a frase estreitando os olhos.

Nym não estava se importanto em protejer Jim, mas permaneceu entre as criaturas dracônicas e Jim, para chamar a atenção dos rapazes.

Ela ficou um pouco encabulada com o insistente olhar de Roswell sobre ela, mas não reclamava. Ao fechar a porta após a saída de Clock Bunny, Ree sentou-se na poltrona onde antes estava o rapaz. Apoiava a cabeça na mão, cotovelos no descanço de braço, e pernas cruzadas. Parecia cansada.

— Está bonita.

Ela não mostrou nenhuma reação aparente, por estar de costas para o rapaz, mas soltou um belo sorriso vitorioso quando este fechou a porta. Era a primeira vez ouvindo um elogio tão direto, e oras, a primeira vez que não parecia saída de uma guerra, com cabelos sujos e roupas desgrenhadas. Seu ego agradecia.

Sem querer, cochilou ali mesmo, nem reparando o tempo que o rapaz levou para se limpar. Ele pareceu ser bem mais eficiente com a limpeza, e ela não deixou de ficar surpresa com suas roupas limpas. Coçou os olhos, e se levantou da poltrona. Já estava ficando com o corpo doído.

— Já deveria estar dormindo, temos um dia longo amanhã. Abrirei a porta para Clock Bunny quando ele chegar

- Eu não estou cansada e...

Um bocejo alto denunciou sua mentirinha. Perdendo qualquer chance de se explicar, ela resolveu se deitar. Usou o travesseiro extra para abraçá-lo, na falta de C.B. Não usava lençois, pelo calor, se esquecera o quão frio o deserto poderia ser de noite. Ainda assim, permaneceu algum tempo acordada, encarando as costas do rapaz e o pouco da janela que conseguia ver. Se imaginava como ele conseguia passar o tempo todo daquela maneira, sem um descanço da vida, sem nenhum tipo de trégua ou até um simples sonho.

Quando Clock Bunny voltou, arranhando sem parar a porta, Ree já tinha adormecido a um bom tempo. O coelho parecia agitado, meio ansioso. Entrou como um raio dentro do quarto, parando então para respirar um pouco. Tentou falar com Ree, mas ao perceber ela dormindo, abaixou as orelhas, e olhou para Roswell.

Clock Bunny não acordar mestra, sim sim... - O coelho pulou da cama e se pendurou em Roswell.

- Clock Bunny ouviu, sim sim, três, armadilha, morto, ou quase. - O coelho deu uma risada como último comentário - Falaram de laboratório, foram pegar ele, sim sim. Entre a vida e a morte!

O coelho se jogou no chão, e isso fez Ree acordar, ouvindo a última sentença.

- E dois meio-dragão, com cauda. - C.B rosnou - Clock bunny não gosta, Clock Bunny brincar.

Ree levantou-se, tentando se posicionar. O coelho estava agitado, e demorou um pouco para entender o que ele queria lhe dizer, pulando para os braços dela, e jogando o travesseiro no chão, num ato de ciúmes com o objeto.

- Laboratório? Eles fazem algum tipo de experiência? - Ela fez uma pause, e depois continuou - E.. três? Pode ser os que vieram conosco?

Bem tentou lembrar o nome deles, mas era tão desinteressante, que não recordou nenhum deles. Assim, ficou sentada, mais desperta por causa do coelho, que afagava as orelhas, num gesto de recompensa pelas informações. Dormiu pouco, mas sem querer, ficou mais desperta que antes, com a mente voltando a trabalhar.

Levantou-se, postando-se a alguns metros do lado de Nym. Olhou-no brevemente para depois encarar o ser petulante que tinha emitido sua voz arrogante para os dois. Dracônico. Obviamente, a julgar pela cauda e suas escamas. Gin sorriu.

— Ih tio, não vai dar. — Gin estava atento. Acompanhava o movimento de todos, inclusive da cauda destes, pronto para saltar para trás caso fosse necessário.

— Veja bem, temos aqui nosso companheiro de muitas viagens morrendo. — Apontou para Jim. — E vocês aparecem aqui querendo levá-lo? — Fez uma cara de decepção.

Olhou para Nym brevemente. Esperava que este entendesse.

— Faz assim, vira esse rabinho que vocês tem aí espetando a bunda e volta praquela descabaçada que vocês chamam de mãe. — Falava cada vez mais alto. Bateu palmas uma vez. — Vão! Sai, sai.. — Estava enxotando-os, como donos fazem quando não querem que seu cachorro entre em casa.

Ainda permancia atento para qualquer movimento hostil feito pelos inimigos. Saltaria para trás caso alguma coisa fugisse dos planos.

Nym esperava uma reação parecida com o que aconteceu em seguida. Ambas as criaturas começaram a rir e caçoar de seus prisioneiros. - Isso mesmo, riam enquanto podem... Subestimem seu inimigo, como sempre fizeram comigo... - Pensou Nym enquanto o Meio Dragão mais próximo se gabava para seu companheiro denominado Bryan.

Contudo, Nym cometeu o mesmo erro. Se gabava de estar com o elemento surpresa e se sentia no controle quando o movimento do Meio Dragão tomou outra direção. Foi pego pelo pescoço. Não acreditava no que estava acontecendo e só se deu conta de que estava realmente encrencado quando os olhos da criatura faiscaram logo a sua frente. Nym arregalou os olhos em alerta e foi arremeçado.

Segurando uma das barras da jaula quando estava próximo da parede Nym conseguiu virar seu corpo no ar e colocar os pés na parede para não bater de cabeça, mas na sequência caiu ao chão se segurando com as mãos. Quando ergueu a cabeça ambos os Meio Dragões estavam fora da cela e levando Jim.

Levantando-se da posição de flexão que se encontrava, Nym ficou olhando para os dois enquanto estes se afastavam. Não conseguia acreditar no que acabará de acontecer. O ódio começou a consumir seus sentidos. Mau conseguia escutar os murmúrios dos demais prisioneiros. Depois que os Meio Dragões sairam do campo de visão Nym baixou os olhos para suas mãos, a boca semi aberta e os olhos incrédulos. - Como ele foi mais rápido que eu? Não é possível que tenha tamanho poder! Não se esforçou em nada para me pegar... Poderia ter me matado facilmente! - Reclamava sem para de sí mesmo dentro de sua cabeça. Se existia algo que enfurecia o pequeno Demônio era o fato de não se sentir capaz de algo.

Ficou parado enquanto recolocava as mãos nos bolsos e agora encarava os outros prisioneiros, seus olhos não mais exibiam incredualidade, mas sim ódio... toda a raiva que aquele momento lhe proporcionara. Crescente. Poderosa. E não podia ser usada... Não agora. Ignorava os demais prisioneiros e foi para um canto da cela onde sentou-se encostando na jaula e fechando os olhos. Era preciso estar bem amanhã.

Ree concordou com a cabeça. Naquele momento, nada poderiam fazer. E ela ainda tinha que ficar bem atenta para poder atuar como eles esperavam. Seria um dia difícil. Só esperava não ter que prolongar aquilo por muito tempo.

Dormiu mais rápido do que imaginaria. Apesar damente alerta, o corpo já não aguentava. Enrolou-se o máximo que pode, para se proteger do frio do deserto. Clock Bunny aproveitou para entrar também, e lá dormiu, enroscado com sua dona. Os cabelos soltos se espalhavam pelos travesseiros, formando uma cascata castanho-escuro. A respiração era sempre tranquila, e como sempre, aquela era o unico momento em que Ree abandonava a face arrogante e mal-humorada de sempre.

Foi uma noite em que dormiu pesado, sem sonhos. Mas não pareceu ter descansado tanto. Acordou com muito sono ainda, e demorou muito para ter a coragem de sair da cama. Clock Bunny,poroutro lado, continuou durmindo.

- Algo interessante?

Ree bocejou, observando Roswell que encarava o horizonte. Se perguntava como suas noites eram entediantes, sem poder dormir. Tlvez ele não ficasse assim, e sim saisse, para fazer algo. Mas não queria meter o bedelho na vida alheia.

Levantou-se da cama, escondendo o rosto cansado pelos cabelos, e se dirigiu para o banheiro, onde pode fazer a toillet e se deixar apresentável. Voltou com o cabelo preso, e já havia posto suas meias. Parecia bem mais apresentável. Sentou-se na cama, para calçar suas botas, enquanto Clock Bunny finalmente ia acordando.